NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado
A TRAGÉDIA GREGA
06 de maio de 2010
As mortes registradas nos distúrbios de ontem, na Grécia, são só o prelúdio do que nos espera nos próximos meses, talvez nos próximos anos. E não apenas naquele infeliz país, mas em todo Ocidente, onde a social-democracia prevaleceu. Estamos vendo seu projeto político desmoronar. Quem, minimamente letrado em ciência econômica, observou os acontecimentos sabia que a construção de uma sociedade de rentistas sem capital, munidos apenas de “direitos”e de “conquistas”, protegidos pela lei estatal injusta, iria se deparar com esse beco sem saída.
A social-democracia é a variante comunista que propõe manter formalmente o regime de propriedade privada, reconhecendo o fracasso do planejamento socialista, mas retirando os recursos de quem trabalha manipulando a via dos impostos e da inflação, emitindo moeda e alargando o endividamento público. Vemos que os limites da carga tributária foram batidos; agora estamos diante do esgotamento da via inflacionária. Na Grécia, como de resto em toda a Europa ocidental, assim como nos EUA, vemos que o setor financeiro está em vias de quebrar ou colocou limites claros aos tomadores de empréstimos. O limite é técnico, além do qual os próprios banqueiros poderão ir à bancarrota.
Na Grécia todas as vias foram esgotadas. Impostos elevados convivem com dívidas impagáveis e a impossibilidade de desvalorizar a moeda comum, o euro. Só restou a via do corte de gastos públicos, com demissões de funcionários e a abolição de “conquistas” para aqueles que permanecerem no serviço público. Pouco a pouco a imprensa internacional vai informando o quanto o Estado grego tem sido generoso com seus empregados e aposentados. A casa ruiu.
Ao ler a coluna de Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo de hoje (O arrastão financeiro), não pude conter o meu espanto. Ele escreveu sobre a crise grega: “A ganância desenfreada tornou-se o combustível que move uma parte importante do setor financeiro. O que surpreende é o silêncio de governantes, acadêmicos e até dos bancos não corsários, igualmente vítimas”.
O jornalista da Folha ignorou a causa única da crise grega, a irresponsabilidade fiscal, atribuindo a culpa aos banqueiros internacionais. Caro leitor, não caia nessa falsa explicação. O governo grego, assim como o de toda a zona do euro, dos EUA e mesmo do Brasil sofrem de um único mal: o populismo econômico. Ele quer distribuir benesses sem contrapartida, pagando rendimentos crescentes a legiões de desocupados, na forma de salários aos funcionários públicos, aos aposentados, aos recebedores de bolsas e aos rentistas de forma geral. Quando a massa parasita dependente do Tesouro é pequena não há desequilíbrio, mas quando se torna um fenômeno de multidão, legiões cada vez mais numerosas vivendo à custa de uma população que trabalha, cada vez mais escassa, o jogo termina por ilogicismo. O parasita não pode ser maior do que o hospedeiro.
O jogo da social-democracia acabou, e não apenas na Grécia. É chegada a hora dos ajustes dolorosos. Bem sabemos que há gerações de pessoas vivendo à custa dos que trabalham, recebendo ilegitimamente seu quinhão de impostos. A interrupção do ócio dourado será dolorida. Nada dura para sempre, nem mesmo a injustiça. Resta saber como a equação política será montada para a aplicação dos ajustes necessários. Haverá choro e ranger de dentes. Tempos de grandes perigos.
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