domingo, 23 de dezembro de 2012

"Um país com dez milhões de habitantes que faz tudo ao contrário de Portugal" - Dinheiro Vivo

Um país com dez milhões de habitantes que faz tudo ao contrário de Portugal - Dinheiro Vivo


Em Budapeste, os governantes têm dedicado o seu tempo, desde 2010, a projetar e implementar nacionalizações de companhias, aumentar o salário mínimo, aliviar a carga fiscal sobre as famílias, incentivar o consumo interno, taxar mais os bancos, reduzir de forma acentuada os encargos do Estado com as parcerias público-privadas (PPP), baixar os impostos para as empresas, entre outras medidas. Se as políticas pensadas e executadas pelo governo português olhassem para o espelho, a imagem daí resultante seria naturalmente invertida e veríamos então o executivo húngaro em ação.

Portugal e Hungria têm áreas e população de dimensões em tudo semelhantes. São dois países da União Europeia (UE) que distam entre si 2390 quilómetros. O primeiro está no euro e o segundo ainda possui moeda própria, o chamado florim húngaro. Portugal quer terminar o ano de 2012 com um défice de 5% e uma dívida de 120% relativamente a um PIB que deverá cair 3%. A Hungria, pelo contrário, deverá ter um défice de 2,5% e uma dívida de 78,4%, tendo como base uma economia que deverá recuar 1,2%. Bem-vindo ao mundo dos contrastes no seio da Europa dos 27.
Alguns poderão perguntar-se se estar ou não sob resgate externo poderá condicionar as políticas. Ora, embora seja um caso pouco falado em Portugal, a Hungria acaba por estar a beneficiar de ajuda do FMI e da UE. O programa da Hungria data de 2008 e tinha o valor de 20 mil milhões, tendo sido entregues até ao momento 14 mil milhões, que acabarão de ser pagos em 2016. O problema surgiu em 2010, na sequência da transição de um Governo socialista para um conservador de Direita, liderado pelo polémico Viktor Órban. Em setembro último, o primeiro-ministro pôs um travão nas políticas de austeridade do FMI, depois de meses de conflito. Pelo meio, Budapeste foi inundada por cartazes anti-FMI colocados pelo governo e que procuravam assumidamente angariar o apoio da população.
"Segundo o acordo feito pelo governo anterior, os salários e pensões teriam de sofrer reduções progressivas e, por esse motivo, o atual Executivo cancelou essas medidas e parou com o processo de cortes", explicou, ao Dinheiro Vivo, o secretário de Estado das Finanças, Gyula Pleschinger.
Se pudesse dar um conselho a Portugal, diria que é possível renegociar acordos com o FMI? "Nós negociámos com o FMI com base nos nossos progressos. Estamos preparados para soluções de compromisso, mas estas não devem ir contra os valores básicos deste governo", sublinha o secretário de Estado. "A crise mostrou que implementar uma união monetária sem uma união fiscal foi muito perigoso e o euro era demasiado forte para Portugal e Grécia e muito barato para a Alemanha", acrescenta.
O governo húngaro quis deixar mais dinheiro para as famílias e introduziu a taxa única de 16% no IRS, aumentando antes os impostos sobre o consumo, nomeadamente o IVA, cuja taxa máxima está nos 27%. Consultando a página de Internet do executivo, a sensação de estarmos perante a imagem de Portugal, invertida por um espelho, ganha mais força. O salário mínimo (485 euros) português está congelado desde 1 de janeiro de 2011 e não se perspetiva aumento. Na Hungria, o salário mínimo vai subir 5,4% em 2013, para 341 euros. A eletricidade e o gás , nas mãos de privados, deverão descer cerca de 10% no início de janeiro por imposição do governo húngaro. Em Portugal, o gás vai subir 2,5% e a eletricidade 2,8%, após várias outras subidas, nomeadamente a que resultou da aplicação do IVA máximo a estes serviços.
A austeridade no seio do Estado está a ser implementada, mas com moderação. "Na administração pública não aumentámos os salários nos últimos dois anos. O valor nominal e a duração do subsídio de desemprego sofreu cortes [tal como em Portugal]. Queremos recolocar as pessoas no mercado de trabalho e incentivamos as famílias a terem filhos através da atribuição de vários subsídios", afirma Pleschinger.
À luz do perfil dos três maiores partidos políticos portugueses (PSD, PS e CDS), pode parecer estranho que na Hungria tenham sido socialistas a privatizar quase todo o sector empresarial e sejam agora conservadores a tentar recuperar ativos importantes para a esfera do Estado. A oposição de Bruxelas tem sido manifesta, mas Budapeste não desiste. 
No superministério do Desenvolvimento Nacional, a ministra Zsuzsa Németh confessou ao Dinheiro Vivo que a Comissão Europeia não gosta das políticas de nacionalização. "Quando comprámos um banco privado comercial, através do nosso banco de fomento, a Comissão Europeia torceu o nariz. Mas tivemos de lhes lembrar que existe um caso semelhante na Alemanha. Por outro lado, a banca privada tem tido grandes lucros, mas não está a emprestar às empresas", afirmou. 
* Jornalista viajou a convite da embaixada da Hungria em Portugal

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

1ª Coletânea e Coleção "Encontro de Escritores"


Participar de uma coletânea é algo muito gratificante, talvez até mais do que simplesmente publicar um livro. A publicação de um livro, para quem não é famoso e não tem as editoras correndo atrás, é difícil e sai caro. A participação numa coletânea, pelo contrário, multiplica o texto pelo número de escritores que participam. 5 páginas numa coleção será divulgada pelo número de escritores que dela participarem. Eu divulgarei meu texto, mas também, um escritor, por exemplo, do Maranhão, divulgará igualmente, assim como eu, o texto dele e o meu. Não sou famoso e sei que jamais iria lançar meu livro lá no Maranhão, mas o escritor ou escritora que participou comigo da Coletânea ou da Antologia, divulgará o meu nome. Isso é a multiplicação da publicação. Então, participe, você também da 1ª Coletânea e Coleção "Encontro de Escritores". Acesse:      https://www.facebook.com/ColetaneaEncontroDeEscritores
Você tem um texto que escreveu num momento de grande inspiração e gostaria de vê-lo publicado num livro? Não tem o capital para fazer uma edição de mil exemplares e nenhuma grande editora ainda te descobriu?
Participe da 1ª Coletânea e Coleção "Encontro de Escritores", com um pequeno, muito pequeno investimento, seu texto se multiplicará por cem e será lido em lugares que você nem imagina.
E você     ainda receberá alguns exemplares para distribuir, vender, doar a quem quiser.
Participações em coletâneas podem render prêmios e a descoberta por grandes editoras que garimpam em busca de novos talentos.
Participe! tire aquela poesia que está escondida dentro de uma gaveta e mostre ao mundo o seu talento.
Tem vergonha do que os outros vão dizer? Publique debaixo de um pseudônimo... e deixe a galera descobrir quem é o autor ou autora daqueles lindos versos.
A coletânea está aberta a qualquer estilo literário, desde poesia até técnico.
Participe, as vagas são limitadas e estão caminhando para o limite.
Acesse: https://www.facebook.com/ColetaneaEncontroDeEscritores ou http://coletanea.encontrodeescritores.com.br e conheça as normas e procedimentos.
Participe! Não esconda seu talento!
Mauro Demarchi - (48) 32776-2049 - (48)8802-1578
coletanea@encontrodeescritores.com.br
-------------------------
Attend a collection is very gratifying, perhaps even more than simply publish a book. Publishing a book for anyone who is not famous and do not have publishers chasing, is difficult and is expensive. Participation in a collection, on the contrary, the text multiplied by the number of writers participating. 5 pages will be published in a collection by the number of writers involved in it. I divulge my text, but also a writer in other country or State, also disclose, like me, him and my text. I'm not famous and I know I would never throw my book there in Maranhão, but the writer or writer who took me from the Collection or Anthology, disclose my name. This is the multiplication of publication. So join in, you are also the 1 st Collection and Collection "Meet the Writers". Visit: https://www.facebook.com/ColetaneaEncontroDeEscritores
Do you have a text written in a moment of great inspiration and would like to see it published in a book? Do not have the capital to make an edition of a thousand copies and no major label yet you found?
Join the 1st Collection and Collection "Meet the Writers" with a small, very small investment, your text will be multiplied by one hundred and will be read in places you can not imagine.
And you still get some copies to distribute, sell, donate to anyone.
Investments in collections can yield prizes and discovery by major publishers that pans in search of new talent.
Join! take that poetry that is hidden inside a drawer and show the world your talent.
Are you ashamed of what others will say? Post under a pseudonym ... and let the guys find out who is the author or author of those beautiful verses.
The collection is open to any literary genre, from poetry to technical.
Join, places are limited and are heading towards the limit.
Visit: https://www.facebook.com/ColetaneaEncontroDeEscritores or http://coletanea.encontrodeescritores.com.br and meet the standards and procedures.
Join! Do not hide your talent!
Mauro Demarchi - (48) 32776-2049 - (48)8802-1578
coletanea@encontrodeescritores.com.br
--------------------------
Participar a una colección es muy gratificante, tal vez incluso más que la simple publicación de un libro. La publicación de un libro para cualquier persona que no es famosa y no tienen chasing editores, es difícil y costoso. La participación en una colección, por el contrario, el texto multiplicado por el número de escritores participantes. 5 páginas en una coletanea serán multiplicadas por el número de escritores que participan en ella. Yo divulgare mi texto, pero también un escritor, por ejemplo, Maranhao, también irá divulgar, dandp a conocer, como yo, él y mi texto. Yo no soy famoso y sé que nunca tiraría mi libro hay en Maranhão, pero el escritor o escritora que me tomó de la colección o antología, divulgar mi nombre. Esta es la multiplicación de la publicación. Así que participar, usted es también la Colección 1 º y Recaudación "Conoce a los escritores". Visita: https://www.facebook.com/ColetaneaEncontroDeEscritores
¿Tiene un texto escrito en un momento de gran inspiración y le gustaría verla publicada en un libro? ¿No tiene el capital para hacer una edición de mil ejemplares y no las grandes discográficas pero que encontraste?
Únete a la primera colección y la colección "Encuentro de Escritores", con una inversión pequeña, muy pequeña, su texto se multiplicará por cien y se leerá en lugares que no puedes imaginar.
Y aún así obtener algunas copias para distribuir, vender, donar a cualquiera.
Las inversiones en las colecciones pueden dar premios y el descubrimiento de grandes editoriales que gira en busca de nuevos talentos.
Únete! tomar esa poesía que se oculta en el interior de un cajón y mostrar al mundo su talento.
¿Te avergüenzas de lo que otros dicen? Publicar un seudónimo ... y dejar que los chicos averiguar quién es el autor o el autor de esos versos hermosos.
La colección está abierta a todos los géneros literarios, desde la poesía a la técnica.
Únete, las plazas son limitadas y se dirigen hacia el límite.
Visita: https://www.facebook.com/ColetaneaEncontroDeEscritoreshttp://coletanea.encontrodeescritores.com.br  y cumplir con las normas y procedimientos.
Únete! No escondas tu talento!
Mauro Demarchi - (48) 32776-2049 - (48)8802-1578
coletanea@encontrodeescritores.com.br

Em Portugal um problema que afeta também os brasileiros


Postado no Facebook: SE tivessemos mar estava concessionado aos estrangeiros..
Não resisto a partilhar este maravilhoso texto de João Quadros:

"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)
demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo
Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores
portugueses." 

Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez
porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de
frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.
Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,
sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti?

Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano.

Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém
interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras.
Fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A
minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num
supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.

Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo
marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo
marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria
quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.

Eu, às vezes penso:
O que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

JOÃO QUADROS . NEGÓCIOS ONLINE
(TEXTO ESCRITO EM COMPLETO DESACORDO ORTOGRÁFICO)
Não resisto a partilhar este maravilhoso texto de João Quadros:

"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)
demonstram que o Pingo Doce 
(da Jerónimo Martins) e o Modelo
Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores
portugueses."

Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez
porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de
frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.
Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,
sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti?

Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano.

Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém
interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras.
Fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A
minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num
supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.

Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo
marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo
marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria
quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.

Eu, às vezes penso:
O que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

JOÃO QUADROS . NEGÓCIOS ONLINE
(TEXTO ESCRITO EM COMPLETO DESACORDO ORTOGRÁFICO)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

RIQUEZA QUE VEM DA TERRA


RIQUEZA QUE VEM DA TERRA

PRODUTORES APRENDERAM A CORRIGIR O SOLO E A FAZER DA TERRA ARENOSA E FRACA UM OÁSIS PARA A PRODUÇÃO DE SOJA, ALGODÃO E MILHO

A região Oeste da Bahia, formada por 24 municípios – entre eles, São Desidério, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães –, mostra-se hoje como um grande oásis em meio a uma terra antes desacreditada e pouco fértil. Produtores do Sul do país chegaram ao local no início da década de 1980 para desbravar novas áreas. Lá encontraram um solo arenoso e fraco. "O produtor investiu e continua aplicando recursos na correção do perfil de solo para torná-lo produtivo. Nós tivemos que nos adaptar com o que encontramos", afirma Wilson Horita, um dos primeiros agricultores a aportar nas novas terras, onde adquiriu, nos anos 1980, 1.200 hectares e atualmente conta com uma área em torno de 85 mil hectares – 45 mil de soja, 10 mil de milho e 30 mil de algodão.

SEGUNDO MAIOR MUNICÍPIO DO ESTADO, COM QUASE 15 MIL QUILÔMETROS QUADRADOS, SÃO DESIDÉRIO ABRIGA BOA PARTE DAS PROPRIEDADES RURAIS E DA PRODUÇÃO DE ALGODÃO, MILHO E SOJA DA REGIÃO. Segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade oscilou nos últimos cinco anos entre os três primeiros lugares do ranking de maior PIB agrícola do país. No último levantamento (2009), a geração de renda vinda do campo foi de R$ 662,5 milhões. No entanto, a maior parte do movimento do comércio e as residências dos produtores ficam em Barreiras, distante 27 quilômetros de São Desidério, e em Luís Eduardo Magalhães, a cerca de 100 quilômetros.

"Quando chegamos, não tinha nada, nenhuma infraestrutura. Era um posto de gasolina e só", afirma Amauri Stracci, membro de uma das primeiras famílias a comprar os lotes na região e que planta hoje soja, milho e algodão. "Eu sempre digo: para dar certo é preciso ter um iluminado na família. E esse papel foi muito bem representado pelo meu pai", diz. Ele conta que a família deixou São Pedro do Ivaí, no Norte do Paraná, para buscar novas terras. "Aqui encontramos tudo que um agricultor poderia pedir: grande extensão de terra, topografia 100% plana e com potencial agricultável, chovia bem e os lotes eram baratos", afirma.

A iniciativa dos produtores fez surgir um modelo único de preparo do solo no Brasil. Eles aprenderam que maiores doses de calcário juntamente com a aplicação de gesso agrícola melhoram a fertilidade. "Isso demanda mais investimento por hectare, porém garante alta produtividade", explica João Carlos Jacobsen Rodrigues, produtor desde 1982 na região, que hoje planta 17,4 mil hectares de milho, soja, algodão, feijão e cria algumas cabeças de gado como um "ensaio" para uma futura integração lavoura-pecuária, como ele mesmo define.

Segundo Stracci, os produtores do Oeste Baiano fazem não apenas a adubação visando a cultura, mas todo o sistema de rotação. Ou seja, o solo é preparado para plantio do algodão, mas o agricultor faz isso já pensando na soja e no milho. "Assim, as duas culturas vêm de carona no algodão e apresentam resultados excelentes. Há produtores que conseguem alcançar de 75 a 85 sacas de soja por hectare e 210 sacas de milho por hectare", diz.

De acordo com Jacobsen, a boa fertilidade do solo alcançada com os tratos para plantio do algodão fez com que os produtores chegassem a uma colheita de até 13,5 mil quilos de milho por hectare. "O algodão, além de dar uma remuneração melhor para o produtor, demanda muito mais insumos químicos como fertilizantes, máquinas e equipamentos, que antes não havia na região", acrescenta.

Além do solo corrigido, há vantagens naturais que auxiliam no bom desempenho da região Oeste. Em Roda Velha, as áreas são planas e com um clima muito bem definido. As chuvas começam em outubro e vão até março, com um veranico entre janeiro e fevereiro. Assim, os produtores entenderam que é preciso plantar na hora certa. Fazer tudo muito bem planejado para não ter perdas. Para Stracci, o produtor não conseguiu mudar o clima, mas se adaptou muito bem a ele.

200 QUILÔMETROS PARA COMPRAR SAL
Engenheiros – mecânico e de produção, respectivamente –, os irmãos Wilson e Walter Horita chegaram ao Oeste Baiano no início dos anos 1980. "O que pode ser mais desafiador para dois jovens com pouco mais de 20 anos? Nós tínhamos vontade de crescer e de que tudo desse certo. Tivemos muitas dificuldades, pois para comprar um pacote de sal era preciso rodar 200 quilômetros até Barreiras, mas vencemos", conta Wilson Horita. A primeira propriedade, com 1,2 mil hectares, foi adquirida em Roda Velha, distrito de São Desidério, onde se concentra a maior parte das fazendas da empresa. O grupo conta também com unidades produtivas em Correntina, Luís Eduardo Magalhães e Formosa de Rio Preto.

Os investimentos em máquinas e equipamentos são constantes nas propriedades. "PROCURAMOS EMPREGAR AQUI TODA TECNOLOGIA RECÉM-LANÇADA. NÃO HÁ MAIS DIFERENÇA ENTRE O QUE É NOVIDADE NOS ESTADOS UNIDOS E O QUE É ENCONTRADO AQUI", AFIRMA HORITA. Segundo ele, o grupo tem um plano de manutenção e de renovação constante de tudo o que é usado nas propriedades. "A nossa busca é por maquinário grande, de alta tecnologia e cada vez mais eficiente. Não temos como fugir disso. É o futuro", diz.

Para os produtores, é o mercado quem determina a expansão ou não das lavouras. Acredita-se que a rotação entre as três culturas – algodão, soja e milho – permanecerá na região, mas já há interesse na integração lavoura-pecuária. "O produtor ainda estuda as possibilidades, as vantagens e desvantagens de entrar em uma área que ainda não domina", diz Jacobsen. Para Horita, o grupo começa a pensar na questão, porém a pecuária não é a aptidão da empresa. "Vamos colher perto de 10 mil hectares de milho, portanto teremos muita braquiária", diz. No entanto, esse material será aproveitado como matéria orgânica. "Assim, é possível criar mais vida para o solo. Nosso objetivo com a braquiária é aumentar a palhada", acrescenta.

Já o grupo Stracci começa a se preparar para a integração lavoura-pecuária e dá os primeiros passos para o aprendizado do manejo com a braquiária. "Essa é uma tendência para os próximos anos", afirma Amauri. "A aptidão do agricultor do Oeste é a produção de grãos e algodão. Já temos total domínio sobre essas culturas, por isso, acredito que a diversificação venha com a suinocultura e/ou a pecuária", diz.

OURO BRANCO DO CERRADO
Primeira em qualidade do algodão no Brasil e segunda maior produtora nacional (depois do Centro-Oeste), a região Oeste da Bahia se destaca não só no mercado interno como em vários países importadores. Um cenário conquistado a duras penas pelos produtores. "No início, entre 1994 e 1995, o algodão surgiu como uma alternativa para a rotação de culturas, que, na época, se concentrava na soja e no milho. Pagamos muito caro para aprender, mas deu certo", afirma João Carlos Jacobsen. Os números comprovam que os produtores estão no caminho certo. O setor movimentou, em 2010, R$ 920,4 milhões – conforme levantamento da Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos do governo da Bahia.

Dados da Aiba (Associação de Produtores e Irrigantes da Bahia) mostram que a primeira safra em 1995/1996 contou com uma área plantada de 2,4 mil hectares e, na safra 2011/2012, a área passou para 385,5 mil hectares. Segundo Isabel da Cunha, presidente da Abapa (Associação Baiana dos Produtores de Algodão), o crescimento – tanto em área como em produtividade – teve dois importantes fatores. O primeiro foi a criação do Proalba, programa de incentivo para produção de algodão na Bahia, e o segundo foi a demanda do mercado pela commodity, que resultaram no ingresso de novos produtores na cultura. "Nós éramos 180 produtores e hoje somos 257", diz Isabel.

O grande salto na produção de algodão foi com o incentivo via política pública, justamente com o Proalba. Trata-se de um plano que concede ao produtor até 50% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) devido sobre a comercialização do produto no mercado interno, desde que atenda aos critérios de qualidade preestabelecidos. Desse percentual, 10% são destinados ao Fundeagro (Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão), que investe em pesquisa, defesa sanitária e marketing. "Há um trabalho de conscientização e de controle intensivo em relação à infestação do bicudo nas lavouras", conta Jacobsen.

A REGIÃO OESTE ABRIGA OS MUNICÍPIOS DE FORMOSA DO RIO PRETO, SÃO DESIDÉRIO, LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, BARREIRAS, CORRENTINA, RIACHÃO DAS NEVES E JABORANDI, QUE CONCENTRAM OS GRANDES PRODUTORES DE ALGODÃO. E são muitos os desafios, segundo Isabel da Cunha. Um dos mais importantes é a criação de um porto seco na região para agilizar a documentação de exportação do produto antes de chegar aos portos. Segundo ela, entre 50% e 60% do volume é voltado para a venda externa e cerca de 40% ficam para a comercialização do mercado interno.

Outro gargalo para escoar a produção é o custo adicional para levar mais de 95% do produto exportado para o porto de Santos (SP). "A solução seria viabilizar o porto de Salvador, que está a 900 quilômetros dessa região", afirma Isabel da Cunha. De Barreiras a Santos, são percorridos quase 2 mil quilômetros.

INVESTIMENTO NO FUTURO
Além da atual vocação agrícola, o Oeste da Bahia oferece outros atrativos para o crescimento da região. Segundo o prefeito de São Desidério, Demir Barbosa, começam as apostas no potencial turístico da cidade. "Nós temos pontos turísticos de grande beleza natural como grutas e lagos, que atraem muitos visitantes", afirma. Em 2011, foram cerca de 8 mil turistas no município. "A previsão para este ano é encerrar com 15 mil", acrescenta. Conforme José Marques de Castro, secretário de Agricultura de São Desidério, além do potencial turístico, o município ainda tem muito a crescer. "Há vários projetos em andamento, como o estudo de viabilidade da cultura de cana-de-açúcar", afirma. A CIDADE CONTA COM 530 MIL HECTARES JÁ EM ESTÁGIO DE PRODUÇÃO E CERCA DE 500 MIL HECTARES QUE AINDA PODEM SER ABERTOS PARA NOVAS CULTURAS E PROJETOS. No entanto, há uma tendência em aplicar novas técnicas que favoreçam o aumento dos níveis de produtividade das culturas da soja, milho e algodão, em vez de abrir novas áreas. "A região é mesmo abençoada, pois, além de terras planas, há uma rica bacia hidrográfica para abastecer o município", observa.

UMA HISTÓRIA DE SANTO
A origem do município com nome de santo ocorreu em 1895, quando São Desidério se tornou distrito de Barreiras. Já a emancipação política da cidade aconteceu somente em fevereiro de 1962.

Segundo Florentino Augusto de Souza Filho, autor do livro "São Desidério de A a Z – Sua história, minhas lembranças", o "São" surgiu de uma de duas supostas razões: da crença dos antigos de que os padres, ao morrerem, se tornavam santos ou da predileção dos proprietários da fazenda que originou o município pelo santo francês São Desidério.

Autor e também proprietário de uma tradicional farmácia, Florentino diz que o crescimento da região se deu entre 1976 e 1978, quando foi construída a estrada que liga Brasília BAIANOa Fortaleza. A rodovia passava também pelos municípios de São Desidério, Barreiras, Riachão das Neves e Formosa de Rio Preto, que tinham terras áridas usadas apenas para a subsistência.

"Nos anos 1980, com a chegada de agricultores do Sul do país, houve uma mudança nessa característica. Os baianos se assustaram com o "pique" dos sulistas, que trouxeram para cá a experiência de corrigir o solo", conta.