sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O que eu penso.

Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva
Muita gente está com uma expectativa bastante negativa no que diz respeito ao governo de Dilma Roussef. Eu não. As pessoas que não votaram nela acreditam que muitas coisas que não foram tratadas na campanha (e que não são do agrado geral) podem, agora, aparecer como pontos de destaque no programa de governo. Um exemplo: a volta da CPMF.
Nenhum dos dois candidatos do segundo turno fez qualquer menção quanto à necessidade de fazê-la voltar. Dona Dilma, agora, como se não tivesse nada com isso, já disse que é uma iniciativa dos governadores e que ela não enviará mensagem para o Congresso a respeito.
O Senador Sarney, por sua vez, já adiantou que o Parlamento pode tomar a iniciativa. Vai daí... Outra coisa, bastante significativa, foi notícia publicada no Correio Braziliense (Coluna do Ari Cinha, de 07 de novembro de 2010, domingo) quanto à existência de uma proposta de emenda constitucional (PEC) já aprovada na Comissão de Constituição e Justiça: em caso de vacância na Presidência da República, o vice não pode substituir definitivamente o titular. A idéia é nova eleição. Como a Dona Dilma - democrata desde sempre, mesmo nos tempos em que militava em organização dedicada a atos de terrorismo - vai respeitar e nunca peitar um Congresso dócil, como sempre desejou ter seu mentor e inventor Lula da Silva, não será difícil conseguir a aprovação. Até porque seu vice é do PMDB, partido absolutamente sem apego ao poder, como todos sabemos, e não se incomodará com não chegar ao topo. Mesmo na planície, o PMDB sempre se aliou às alturas. Aliás, Deus a livre e guarde, em caso de recidiva do câncer que atacou a hoje presidente eleita, havendo nova eleição por falecimento da titular, o PT poderá lançar novamente adivinhemos quem: Luís Inácio Lula da Silva !!!!! Além disso, temas que foram escamoteados na campanha e nos debates, como o do aborto, apoio às pretensões do MST e controle da imprensa, para não espantar os eleitores, também podem ser ressuscitados.
Minha esperança, contudo é que nada disso aconteça e Dona Dilma siga impávida em sua trajetória gloriosa de presidente. Por que ? Porque ela em, no máximo, seis meses terá livrado a nação brasileira da nefasta influência de seu criador. Se é verdade que ela é autoritária e arbitrária (tantos são os casos divulgados que a gente acaba acreditando), não se sujeitará à tutela de ninguém. Se já gritava com e até destratava outros ministros e funcionários graduados em reuniões de serviço, não há de ser um metalúrgico ( que alguns dizem ser chegado a libações alcoólicas ) de pouca instrução que vai mandar nela. Todos conhecemos a inabilidade do Lula em seus pronunciamentos, provamos de sua incontinência verbal, de suas piadas inoportunas e até mesmo de alguns pequenos palavrões que - nas transcrições oficiais para arquivos - apareciam como "inaudíveis". Não deixará de ser assim, se Dona Dilma o contrariar. Só que ela, do pedestal de sua grandeza, não terá obrigação de aturar. Aí, ele, mais vaidoso que pavão fantasiado de destaque em escola de samba, tentará inviabilizar o governo dela, achando-se ainda detentor de uma popularidade enorme ( em que eu nunca acreditei ) e com total controle do PT. Como o PT mostrou-se partido de boquinhas e bocões, não creio que aceite perder suas posições e seus medalhões voltem a ser lanterneiros, pintores de auto, caixas de banco, petroleiros de plataforma, vigilantes ( todas profissões honradíssimas, mas que não pagam os salários polpudos desses sebraes e fundos de pensão da vida). Sempre haverá quem seja grato a Lula e aí se farão as divisões de uma agremiação que já é cheia de alas, tendências e correntes. Se o preço da eleição de Dona Dilma for, realmente, o ostracismo do Lula e a desestruturação do PT, haverá espaço para que uma oposição honesta ( e não tão incompetente quanto a que conduziu a campanha do José Serra) escolha um líder de fato para conduzir nosso Brasil a seu destino de grande nação.
É o que eu penso. E rezo muito para que aconteça.
Brasília, DF, 09 de novembro de 2010.
Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva
Autorizada a reprodução, divulgação e impressão, desde que conservado o nome do autor.

O risco do PT virar PMDB | Análise

O risco do PT virar PMDB | Análise

O nome do lugar do evento não poderia ser mais sugestivo: Centro de Convenções Brasil 21. O momento também não poderia ser mais propício: o auge das negociações para indicação dos políticos que formarão o novo governo. É com olho nesse futuro imediato que, na manhã dessa sexta-feira, 20 de novembro, o Partido dos Trabalhadores reúne em Brasília os 81 integrantes de seu diretório nacional. O encontro será aberto pela presidenta eleita Dilma Rousseff e sucedido por outro, à tarde, com os 21 membros da executiva nacional. Os dirigentes estarão lá para definir, digamos, as oportunidades estratégicas para o PT, mas a ansiedade de cargos vivida por muitos de seus líderes traduz na realidade um risco no médio prazo: o do PT, no lugar de modificar o PMDB, começar a se assemelhar a ele.

A peemedebização do PT é um processo facilitado pelo término do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem a constante presença do líder popular, os parlamentares do PT tendem a ver na máquina pública a melhor alavanca para, na próxima eleição, garantir os prefeitos que, por sua vez, irão assegurar o apoio à recondução de mandatos de deputados e senadores.

Assim se move a roda-viva da maioria dos partidos, mas ela é praticamente lei no PMDB: quanto mais prefeitos têm um parlamentar, mais forte ele é. Quanto mais forte ele for, mais cargos poderá pleitear. Quanto mais indicados tiver nos ministérios e nas empresas estatais, mais recursos levará para as cidades de seu Estado. E quanto mais recursos levar, mais prefeitos fará na eleição seguinte.

Há oito anos, o PT desembarcou em Brasília, após uma longa vida na oposição, procurando nomes com capacidade técnica e experiência para tocar o dia a dia da máquina pública. Dilma Rousseff, por exemplo, chegou indicada por um dos grandes amigos de Lula, o ex-governador Olívio Dutra, pela sua passagem no governo do Rio Grande do Sul. Hoje, o partido tem confiança nos quadros que produziu e eles são muito mais numerosos que antes.

No PT, a presença de Lula não abrandava necessariamente o desejo por cargos, mas servia de paliativo a descontentes. Havia frequentemente uma luta pela simpatia do presidente, já que ela garantia apoio no partido, sustentação do governo e transferência eleitoral. A capacidade de articulação de Lula fabricou candidatos, como em São Paulo, e sepultou candidaturas, como em Minas Gerais. Seu nome era elemento de convencimento eleitoral: levar o presidente ao município, aparecer com ele no horário eleitoral e tê-lo como padrinho serviu de garantia para uma boa largada na eleição. Assim, podia-se ser bem sucedido nas urnas sem que para isso fosse necessário ter muitos cargos ou verbas.

Ao final do mandato, Lula estará aí, e ele já indicou que continuará fazendo política partidária. Mas sem o poder de retaliação imediata da máquina do governo, seu peso será menos decisivo nos embates internos. Ficará mais difícil convencer o PT de Minas, por exemplo, a abrir mão de uma candidatura viável em favor de um nome de outro partido.

É por isso que muita gente no PT anda tão ansiosa. Já são quatro os nomes do partido que desejam se lançar à Presidência da Câmara. E todos foram surpreendidos pela jogada do PMDB de montar um blocão com partidos menores para voltar a ter, no plenário da Casa, a maioria que perdeu nas urnas.

No manual do parlamento, ensina-se que existem os cargos de poder, de visibilidade e de dinheiro. Apenas como exemplo: ministro-chefe da Casa Civil é um cargo de poder, líder do governo no Congresso é de visibilidade e diretor financeiro de algumas estatais fica na terceira categoria. As presidências da Câmara e do Senado reúnem os três benefícios.

Ter sob seu controle o maior número de cargos e verbas passa agora a ser o melhor caminho para a bancada do PT enfrentar a queda de braço com os outros partidos da coalizão governista, especialmente PMDB e PSB. No primeiro round, o PMDB ganhou com a formação do “blocão”. Pode ser que o PT use a reunião dessa sexta-feira para deflagrar uma revanche usando as mesmas armas e apetite. Nesse caso, a derrota, além de má conselheira, será elemento catalisador do processo de peemedebização do PT.

Autor: Luciano SuassunaTags: , , , , ,