sexta-feira, 26 de novembro de 2010

L'Italia in Brasile - Musica Italiana - 'Ci vuole un Fiore' - Cantam o Coro do Zecchino d'Oro & Sergio Endrigo

L'Italia in Brasile - Musica Italiana - 'Ci vuole un Fiore' - Cantam o Coro do Zecchino d'Oro & Sergio Endrigo

Musica Italiana

Ci vuole un Fiore

( Cantam: Coro dello Zecchino d'Oro & Sergio Endrigo )
( Autores: L. Enriquez Bacalov - S. Endrigo - G. Rodari - 1975 )


A China do Futuro e o Futuro é Hoje...

Mais uma matéria interessante que recebi por email. Realmente, há muito tempo isso acontece e começou com os produtos 1,99. A escravidão chinesa foi sustentada pelos ocidentais como o foi a escravidão soviética. Agora, estamos numa fase de transição: os produtos melhoraram de qualidade e estão atraindo marcas famosas, em breve veremos o que o autor fala em seu artigo.



 por Luciano Pires
 Luciano Pires é diretor de marketing da Dana e profissional de comunicação 

Alguns conhecidos voltaram da China impressionados. Um determinado produto que o Brasil fabrica em um milhão de unidades, uma só fábrica chinesa produz quarenta milhões...
 A qualidade já é equivalente. E a velocidade de reação é  impressionante.
 Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de semanas...
 Com preços que são uma fração dos praticados aqui.
  Uma das fábricas está de mudança para o interior, pois os salários da região onde está instalada estão altos demais: 100 dólares.
 Um operário brasileiro equivalente ganha 300 dólares no mínimo que acrescidos de impostos e benefícios representam quase 600 dólares.
 Quando comparados com os 100 dólares dos chineses, que recebem praticamente zero benefícios.... estamos perante uma escravatura amarela e alimentando-a...

 Horas extraordinárias? Na China...? Esqueça !!!
 O pessoal por lá é tão agradecido por ter um emprego que trabalha horas extras sabendo que não vão receber nada  por isso...
  Atrás dessa "postura" está a grande armadilha chinesa.
 Não se trata de uma estratégia comercial, mas sim de uma estratégia " poder" para ganhar o mercado ocidental .
  Os chineses estão tirando proveito da atitude dos 'marqueteiros' ocidentais, que preferem terceirizar a produção ficando apenas com o que ela "agrega de valor":a marca.
  Dificilmente você adquire atualmente nas grandes redes comerciais dos Estados Unidos da América um produto "made in USA".
 É tudo "made in China", com rótulo estadunidense.
  As Empresas ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por centavos e vendendo por centenas de dólares...
 Apenas lhes interessa o lucro imediato e a qualquer preço.
 Mesmo ao custo do fechamento das suas fábricas e do brutal desemprego. É o que pode-se chamar de "estratégia preçonhenta".
  Enquanto os ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto prazo, a China assimila essas táticas, cria unidades produtivas de alta performance, para dominar no longo prazo.
  Enquanto as grandes potências mercadológicas que ficam com as marcas, com os designes...suas grifes, os chineses estão ficando com a produção, assistindo estimulando e contribuindo para o desmantelamento dos já poucos parques industriais ocidentais.
  Em breve, por exemplo, já não haverá mais fábricas de tênis ou de calçados pelo mundo ocidental. Só haverá na China.
  Então, num futuro próximo veremos os produtos chineses aumentando os seus preços, produzindo um "choque da manufatura", como aconteceu com o choque petrolífero nos anos setenta. Aí já será tarde demais.
 Então o mundo perceberá que reerguer as suas fábricas terá um custo proibitivo e irá render-se ao poderio chinês.
Perceberá que alimentou um enorme dragão e acabou refém do mesmo.
Dragão este  que aumentará gradativamente seus  preços, já que será ele  será quem ditará as novas leis de mercado pois será quem manda  pois terá o monopólio  da produção .
Sendo ela e apenas ela quem possuirá as fábricas, inventários e empregos é quem vai regular os mercados e não os "preçonhentos".
Iremos, nós e os nossos filhos,netos... assistir a uma inversão das regras do jogo atual que terão nas economias ocidentais o impacto de uma bomba atômica... chinesa.
Nessa altura em que o mundo ocidental  acordar será muito tarde.
Nesse dia, os executivos "preçonhentos" olharão tristemente para os esqueletos das suas antigas fábricas, para os técnicos aposentados jogando boliche no clube da esquina, e chorarão sobre as sucatas dos seus parques fabris desmontados.
E então lembrarão, com muitas saudades, do tempo em que ganharam dinheiro comprando "balatinho dos esclavos" chineses, vendendo caro suas "marcas- grifes "aos seus conterrâneos.
E então, entristecidos, abrirão suas "marmitas" e almoçarão as suas marcas que já deixaram de ser moda e, por isso, deixaram de ser poderosas pois foram todas copiadas....

 REFLITAM E COMEÇEM A COMPRAR - 
 -  OS PRODUTOS DE FABRICAÇÃO NACIONAL, FOMENTANDO O EMPREGO EM SEU PAÍS, PELA SOBREVIVENCIA DO SEU AMIGO, DO SEU VIZINHO E ATÉ MESMO DA SUA PRÓPRIA... E DE SEUS DESCENDENTES.  

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O que eu penso.

Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva
Muita gente está com uma expectativa bastante negativa no que diz respeito ao governo de Dilma Roussef. Eu não. As pessoas que não votaram nela acreditam que muitas coisas que não foram tratadas na campanha (e que não são do agrado geral) podem, agora, aparecer como pontos de destaque no programa de governo. Um exemplo: a volta da CPMF.
Nenhum dos dois candidatos do segundo turno fez qualquer menção quanto à necessidade de fazê-la voltar. Dona Dilma, agora, como se não tivesse nada com isso, já disse que é uma iniciativa dos governadores e que ela não enviará mensagem para o Congresso a respeito.
O Senador Sarney, por sua vez, já adiantou que o Parlamento pode tomar a iniciativa. Vai daí... Outra coisa, bastante significativa, foi notícia publicada no Correio Braziliense (Coluna do Ari Cinha, de 07 de novembro de 2010, domingo) quanto à existência de uma proposta de emenda constitucional (PEC) já aprovada na Comissão de Constituição e Justiça: em caso de vacância na Presidência da República, o vice não pode substituir definitivamente o titular. A idéia é nova eleição. Como a Dona Dilma - democrata desde sempre, mesmo nos tempos em que militava em organização dedicada a atos de terrorismo - vai respeitar e nunca peitar um Congresso dócil, como sempre desejou ter seu mentor e inventor Lula da Silva, não será difícil conseguir a aprovação. Até porque seu vice é do PMDB, partido absolutamente sem apego ao poder, como todos sabemos, e não se incomodará com não chegar ao topo. Mesmo na planície, o PMDB sempre se aliou às alturas. Aliás, Deus a livre e guarde, em caso de recidiva do câncer que atacou a hoje presidente eleita, havendo nova eleição por falecimento da titular, o PT poderá lançar novamente adivinhemos quem: Luís Inácio Lula da Silva !!!!! Além disso, temas que foram escamoteados na campanha e nos debates, como o do aborto, apoio às pretensões do MST e controle da imprensa, para não espantar os eleitores, também podem ser ressuscitados.
Minha esperança, contudo é que nada disso aconteça e Dona Dilma siga impávida em sua trajetória gloriosa de presidente. Por que ? Porque ela em, no máximo, seis meses terá livrado a nação brasileira da nefasta influência de seu criador. Se é verdade que ela é autoritária e arbitrária (tantos são os casos divulgados que a gente acaba acreditando), não se sujeitará à tutela de ninguém. Se já gritava com e até destratava outros ministros e funcionários graduados em reuniões de serviço, não há de ser um metalúrgico ( que alguns dizem ser chegado a libações alcoólicas ) de pouca instrução que vai mandar nela. Todos conhecemos a inabilidade do Lula em seus pronunciamentos, provamos de sua incontinência verbal, de suas piadas inoportunas e até mesmo de alguns pequenos palavrões que - nas transcrições oficiais para arquivos - apareciam como "inaudíveis". Não deixará de ser assim, se Dona Dilma o contrariar. Só que ela, do pedestal de sua grandeza, não terá obrigação de aturar. Aí, ele, mais vaidoso que pavão fantasiado de destaque em escola de samba, tentará inviabilizar o governo dela, achando-se ainda detentor de uma popularidade enorme ( em que eu nunca acreditei ) e com total controle do PT. Como o PT mostrou-se partido de boquinhas e bocões, não creio que aceite perder suas posições e seus medalhões voltem a ser lanterneiros, pintores de auto, caixas de banco, petroleiros de plataforma, vigilantes ( todas profissões honradíssimas, mas que não pagam os salários polpudos desses sebraes e fundos de pensão da vida). Sempre haverá quem seja grato a Lula e aí se farão as divisões de uma agremiação que já é cheia de alas, tendências e correntes. Se o preço da eleição de Dona Dilma for, realmente, o ostracismo do Lula e a desestruturação do PT, haverá espaço para que uma oposição honesta ( e não tão incompetente quanto a que conduziu a campanha do José Serra) escolha um líder de fato para conduzir nosso Brasil a seu destino de grande nação.
É o que eu penso. E rezo muito para que aconteça.
Brasília, DF, 09 de novembro de 2010.
Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva
Autorizada a reprodução, divulgação e impressão, desde que conservado o nome do autor.

O risco do PT virar PMDB | Análise

O risco do PT virar PMDB | Análise

O nome do lugar do evento não poderia ser mais sugestivo: Centro de Convenções Brasil 21. O momento também não poderia ser mais propício: o auge das negociações para indicação dos políticos que formarão o novo governo. É com olho nesse futuro imediato que, na manhã dessa sexta-feira, 20 de novembro, o Partido dos Trabalhadores reúne em Brasília os 81 integrantes de seu diretório nacional. O encontro será aberto pela presidenta eleita Dilma Rousseff e sucedido por outro, à tarde, com os 21 membros da executiva nacional. Os dirigentes estarão lá para definir, digamos, as oportunidades estratégicas para o PT, mas a ansiedade de cargos vivida por muitos de seus líderes traduz na realidade um risco no médio prazo: o do PT, no lugar de modificar o PMDB, começar a se assemelhar a ele.

A peemedebização do PT é um processo facilitado pelo término do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem a constante presença do líder popular, os parlamentares do PT tendem a ver na máquina pública a melhor alavanca para, na próxima eleição, garantir os prefeitos que, por sua vez, irão assegurar o apoio à recondução de mandatos de deputados e senadores.

Assim se move a roda-viva da maioria dos partidos, mas ela é praticamente lei no PMDB: quanto mais prefeitos têm um parlamentar, mais forte ele é. Quanto mais forte ele for, mais cargos poderá pleitear. Quanto mais indicados tiver nos ministérios e nas empresas estatais, mais recursos levará para as cidades de seu Estado. E quanto mais recursos levar, mais prefeitos fará na eleição seguinte.

Há oito anos, o PT desembarcou em Brasília, após uma longa vida na oposição, procurando nomes com capacidade técnica e experiência para tocar o dia a dia da máquina pública. Dilma Rousseff, por exemplo, chegou indicada por um dos grandes amigos de Lula, o ex-governador Olívio Dutra, pela sua passagem no governo do Rio Grande do Sul. Hoje, o partido tem confiança nos quadros que produziu e eles são muito mais numerosos que antes.

No PT, a presença de Lula não abrandava necessariamente o desejo por cargos, mas servia de paliativo a descontentes. Havia frequentemente uma luta pela simpatia do presidente, já que ela garantia apoio no partido, sustentação do governo e transferência eleitoral. A capacidade de articulação de Lula fabricou candidatos, como em São Paulo, e sepultou candidaturas, como em Minas Gerais. Seu nome era elemento de convencimento eleitoral: levar o presidente ao município, aparecer com ele no horário eleitoral e tê-lo como padrinho serviu de garantia para uma boa largada na eleição. Assim, podia-se ser bem sucedido nas urnas sem que para isso fosse necessário ter muitos cargos ou verbas.

Ao final do mandato, Lula estará aí, e ele já indicou que continuará fazendo política partidária. Mas sem o poder de retaliação imediata da máquina do governo, seu peso será menos decisivo nos embates internos. Ficará mais difícil convencer o PT de Minas, por exemplo, a abrir mão de uma candidatura viável em favor de um nome de outro partido.

É por isso que muita gente no PT anda tão ansiosa. Já são quatro os nomes do partido que desejam se lançar à Presidência da Câmara. E todos foram surpreendidos pela jogada do PMDB de montar um blocão com partidos menores para voltar a ter, no plenário da Casa, a maioria que perdeu nas urnas.

No manual do parlamento, ensina-se que existem os cargos de poder, de visibilidade e de dinheiro. Apenas como exemplo: ministro-chefe da Casa Civil é um cargo de poder, líder do governo no Congresso é de visibilidade e diretor financeiro de algumas estatais fica na terceira categoria. As presidências da Câmara e do Senado reúnem os três benefícios.

Ter sob seu controle o maior número de cargos e verbas passa agora a ser o melhor caminho para a bancada do PT enfrentar a queda de braço com os outros partidos da coalizão governista, especialmente PMDB e PSB. No primeiro round, o PMDB ganhou com a formação do “blocão”. Pode ser que o PT use a reunião dessa sexta-feira para deflagrar uma revanche usando as mesmas armas e apetite. Nesse caso, a derrota, além de má conselheira, será elemento catalisador do processo de peemedebização do PT.

Autor: Luciano SuassunaTags: , , , , ,

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aquecimento Global: fraude pseudo científica.


Sem Medo da Verdade
Boletim Eletrônico de Atualidades - N° 122 - 16/11/2010
www.paznocampo.org.br
linhagrossa

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http://www.paznocampo.org.br/boletim

Prof. Harold Lewis: aquecimento global é a "maior e mais bem sucedida fraude pseudocientífica que eu já vi em minha longa vida de físico"

 

Harold Lewis, professor emérito de física da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, renunciou à Sociedade Americana de Física.

O número de títulos do catedrático é como que infindo. Seguem em inglês:

Harold Lewis is Emeritus Professor of Physics, University of California, Santa Barbara, former Chairman; Former member Defense Science Board, chairman of Technology panel; Chairman DSB study on Nuclear Winter; Former member Advisory Committee on Reactor Safeguards; Former member, President's Nuclear Safety Oversight Committee; Chairman APS study on Nuclear Reactor Safety Chairman Risk Assessment Review Group; Co-founder and former Chairman of JASON; Former member USAF Scientific Advisory Board; Served in US Navy in WW II; books: Technological Risk (about, surprise, technological risk) and Why Flip a Coin (about decision making)

Eis o texto da carta feita pública pelo próprio professor Hal Lewis.

De: Hal Lewis, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara

Para: Curtis G. Callan Jr., da Universidade Princeton, presidente da Sociedade Americana de Física

6 de outubro de 2010

Caro Curt:

Quando eu ingressei na American Physical Society há sessenta e sete anos atrás ela era muito menor, muito mais delicada, e ainda não corrompida pela inundação de dinheiro (uma ameaça contra a qual Dwight Eisenhower advertiu há meio século).

Na verdade, a escolha da física como profissão era, então, uma garantia de uma vida de pobreza e de abstinência. Foi a Segunda Guerra Mundial que mudou tudo isso. A perspectiva de ganho mundano levou alguns físicos.

Tão recentemente quanto 35 anos atrás, quando eu presidi o primeiro estudo APS de uma controversa questão social/científica, o The Reactor Safety Study, embora houvesse fanáticos em grande quantidade no exterior não havia indício algum de pressão descabida sobre nós como físicos. Éramos, portanto, capazes de produzir o que eu acredito que foi e é uma avaliação honesta da situação naquele momento.

Estávamos ainda reforçados pela presença de uma comissão de fiscalização composta por Pief Panofsky, Vicki Weisskopf e Hans Bethe, todos eles físicos proeminentes e irrepreensíveis. Fiquei orgulhoso do que fizemos em uma atmosfera carregada. No final, a comissão de fiscalização, no seu relatório ao Presidente APS, observou a total independência em que fizemos o trabalho, e previu que o relatório seria atacado pelos dois lados. Que melhor homenagem poderia haver?

Quão diferente é agora. Os gigantes já não caminham sobre a terra, e a inundação de dinheiro tornou-se a razão de ser de muita pesquisa em física, o sustento vital para muito mais, e fornece o suporte para um número incontável de empregos profissionais.

Por razões que logo ficarão mais claras o meu orgulho em ser um ex-companheiro APS todos esses anos foi virando vergonha, e eu sou forçado, absolutamente sem prazer, a oferecer-lhe minha renúncia da Sociedade.

É claro, o embuste do aquecimento global, com os (literalmente) trilhões de dólares que corromperam muitos cientistas, e levou a APS como uma onda gigantesca.

É a maior e mais bem sucedida fraude pseudocientífica que eu já vi em minha longa vida de físico. Qualquer um que tenha a menor dúvida de que isto é assim deve se esforçar para ler os documentos do Climategate, que a colocam a nu. (O livro de Montford organiza os fatos muito bem.) Eu não acredito que qualquer físico verdadeiro, mesmo o não cientista, pode ler esse material sem repulsa. Eu quase gostaria de fazer dessa repulsa uma definição da palavra cientista.

Então, o que tem feito a APS, enquanto organização, em face desse desafio? Ela aceitou a corrupção como a norma, e se deixou levar por ela. Por exemplo:

1. Há um ano, alguns de nós enviamos um e-mail sobre o assunto para uma fração da sociedade. A APS ignorou os problemas, mas o então presidente iniciou imediatamente uma investigação hostil para saber onde nós obtemos os endereços de e-mail. Em seus melhores dias, APS acostumava incentivar a discussão das questões importantes, e de fato a Constituição fixa isso como seu objetivo principal. No more. Não mais. Tudo o que foi feito no ano passado foi projetado para silenciar o debate.

2. A espantosamente tendenciosa declaração da APS sobre a Mudança do Clima aparentemente foi escrita às pressas por algumas pessoas durante o almoço, e certamente não é representativa dos talentos dos membros da APS como eu os conheço há muito tempo.

Então, alguns de nós pedimos ao Conselho que a reconsidere. Uma das notas de (in)distinção na Declaração foi a envenenada palavra "incontrovertível", que se aplica poucos pontos na Física, e certamente não à questão climática. Como resposta a APS nomeou um comitê secreto que nunca conheci, que nunca incomodou-se em falar com algum "cético" mas, no entanto, aprovou a Declaração na íntegra. Eles admitiram que o tom havia sido um pouco forte, mas, engraçado, eles conservaram a palavra envenenada "incontrovertível" para descrever os fatos, posição que ninguém sustenta. No final, o Conselho manteve a declaração original, palavra por palavra, e aprovou um texto muito mais "explicativo", admitindo que havia incertezas, mas pondo-as de lado para dar a aprovação genérica ao original.

A Declaração original, que ainda permanece como a posição APS, também contém o que eu considero um conselho pomposo e asinino a todos os governos do mundo, como se a APS fosse mestre do universo. Não o é, e estou envergonhado que nossos líderes pareça pensar que o é. Isso não é diversão nem jogos, essas são questões sérias que envolvem largos setores de nossa essência nacional, e a reputação da Sociedade enquanto sociedade científica está em jogo.

3. Nesse ínterim, o escândalo do Climategate irrompeu no noticiário, e as maquinações dos principais alarmistas foram reveladas ao mundo. Foi uma fraude em uma escala que nunca vi, e eu não tenho palavras para descrever sua enormidade. Qual foi o efeito sobre a posição APS?: nenhum. Nada mesmo. Isso não é ciência; há outras forças que estão agindo.

4. Então, alguns de nós tentamos atrair a comunidade científica para o fato (que é, afinal, a finalidade histórica pretendida pela APS) e coletamos as 200 assinaturas necessárias para apresentar ao Conselho uma proposta de um grupo de tópicos sobre Ciência Climática, achando que a discussão aberta das questões científicas está na melhor tradição da física, que seria benéfica para todos nós, e também seria uma contribuição para a nação. Eu poderia observar que não foi fácil coletar as assinaturas, uma vez que nos negaram o uso da lista de membros APS. Em qualquer caso nós agimos em conformidade com as exigências da Constituição da APS, e descrevemos com muitos detalhes o que tínhamos em mente, simplesmente para trazer o assunto à tona.

5. Para nosso espanto, a Constituição que se dane, o Sr. se recusou a aceitar nosso pedido, e fez uso de seu próprio poder sobre a lista de discussão para realizar uma pesquisa sobre se os membros tinham interesse numa TG sobre o Clima e o Ambiente. Você perguntou aos membros se eles assinariam uma petição para formar um TG sobre um tema ainda a ser definido e não forneceu formulário para petição alguma, assim você recebeu um monte de respostas afirmativas. (Se você tivesse perguntado sobre sexo teria obtido mais expressões de interesse.) Não saiu, naturalmente, nenhum pedido ou proposta, e você agora lançou um parte do Ambiente, de maneira que toda a questão ficou discutível. (Qualquer advogado teria te explicado que você não pode coletar assinaturas para uma petição vaga e, em seguida preencher com o que você quiser.) O objetivo de toda essa manobra foi evitar sua responsabilidade constitucional de encaminhar nossa petição ao Conselho.

6. A partir de então você montou um outro comitê segredo para organizar a sua própria TG, simplesmente ignorando a nossa petição legal.

A direção da APS driblou o problema desde o início, para suprimir a conversa séria sobre o mérito das reivindicações sobre alterações climáticas. Você se espanta que eu tenha perdido a confiança na organização?

Eu sinto a necessidade de acrescentar uma nota, e isso é conjectura, pois é sempre arriscado discutir os motivos das outras pessoas. Esta intriga no quartel geral da APS é tão bizarra que não pode haver uma explicação simples para ela. Alguns defendem que os físicos de hoje não são tão espertos como costumavam ser, mas eu não acho que isso seja um problema.

Eu acho que é o dinheiro, sobre o qual exatamente Eisenhower alertou meio século atrás. De fato, há trilhões de dólares envolvidos, para não falar da fama e da glória (viagens frequentes para ilhas exóticas) para quem é membro do clube. Seu próprio Departamento de Física (do qual é presidente) iria perder milhões por ano se estourasse a bolha de sabão do aquecimento global.

Quando a Universidade Estadual da Pennsylvania absolveu Mike Mann de delito, e a Universidade de East Anglia fez o mesmo com Phil Jones, elas não podem ter tido desconhecido as sanções pecuniárias que sofreriam se faziam o contrário. Como diz o velho ditado, você não precisa ser um meteorologista para saber para que lado o vento está soprando.

Posto que eu não sou filósofo, eu não vou explorar até que ponto o auto-interesse esclarecido cruza a fronteira da corrupção, porém uma leitura atenta dos noticiário do Climategate deixa claro que esta não é uma questão acadêmica.

Eu não quero parte nenhuma nela, por isso, peço-lhe aceitar a minha demissão. A APS já não me representa, mas espero que ainda nós sejamos amigos.

Hal

(Fonte: "The Telegraph", October 9th, 2010).

 




Sem medo da verdade
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Fwd: Por que será que os Portugueses não anunciaram antes a descoberta do Brasil?

Desde 1490: portugueses no Brasil

Por mais que Afonso Schmidt queira esconder-se na pele do simples ficcionista, sua última novela, O Enigma de João Ramalho, a começar do título, representa a colocação de um problema histórico. Primeiro lançamento do Clube do Livro neste ano, traz um prefácio do diretor da editora. Nesse prefácio, que habitualmente tem o título modesto de "nota explicativa", Mário Graciotti explica que Schmidt "Não só apresenta uma tese arrojada e atraente, a de que os portugueses do século XV já teriam povoado, em 1490, antes mesmo de Colombo, as terras americanas, mas ainda nos recorda a remota e presente figura de João Ramalho

Texto de Herculano Pires. Fotos de Álvaro Costa

Schmidt escreve a sua novela, por assim dizer, na "linha justa" do parecer de Theodoro Sampaio, aprovando a tese de João Mendes Júnior, quanto à origem judaica de Ramalho. O futuro alcaide-mór de Santo André e de São Paulo de Piratininga é apresentado como expulso de Portugal num grupo de marranos, ou excomungados, que são enviados para longe. A caravela portuguesa que os traz vem abandoná-los no litoral paulista. E começa então a posse da América pelos portugueses, embora degredados.

Graciotti, que há tempos vem investigando os primórdios da navegação portuguesa, tendo escrito primorosos capítulos sobre as caravelas, em seu livro de viagem a Portugal, recentemente premiado em Lisboa, apóia a tese de Schmidt. E pergunta: "Por que D. João II não ajudava Colombo, se Portugal tinha quase setenta anos de domínio do Atlântico e ardia na febre dos descobrimentos? A resposta estaria aqui, nas páginas do romancista, como esteve, outrora, no famoso testamento de João Ramalho: em 1490, portugueses já povoavam de quilhas e de homens os mares e as terras americanas".

Enigma do nome - João Ramalho é enigma a partir do nome. Por que Ramalho, se conhecemos a sua procedência, como filho de João Velho Maldonado? Schmidt explica assim o novo nome: "Os da paróquia alcunharam-no de Ramalho ou Ramalhudo, numa alusão às barbas, bigodes e cabelos arrepiados". Um apelido que lhe fora posto em Vouzela, sua vila natal, onde o futuro patriarca se casara com Catarina Fernandes.

Esse Ramalhudo estava destinado a varar mundo e deitar seus ramos além-mar, em terras desconhecidas. Deixaria Catarina no termo de Coimbra, chorando o desterro do marido, para casar-se no Planalto com uma princesa indígena, Bartira ou Potira, filha do rei Tibiriçá. E uma vez conquistada a nova terra, nela se manteria como um agente da política secreta de D. João II, a que se referem Jaime Cortesão e Pedro Calmon. Tornando-se genro do Rei, o marrano Ramalho assumia a posição de príncipe-regente, como depois a história no-lo apresenta, em seu domínio fortificado de Santo André da Borda do Campo.

Pode parecer estranho que um degredado de origem judaica assumisse as funções, embora de maneira forçada, de representante secreto do monarca português nas terras virgens. Mas acontece que a política de D. João II, no tocante aos judeus, era mesmo ambivalente. Admitiu-os em Portugal e chegou a dar-lhes incumbências importantes, antes que se desencadeasse a perseguição religiosa que roubou ao País a glória de ter como seu filho o filósofo Espinosa. Não admira, pois, que atendendo aos interesses momentâneos do Reino, mandasse osmarranos para fora, mas deles se utilizasse na distância.

Enigma da assinatura - As atas da Vila de Santo André da Borda do Campo, atas da Vereança, de que nos restam apenas "um rendilhado feito pelas traças", deixam ver, entretanto, dezenove assinaturas de João Ramalho, figurando em todas elas o sinal-distintivo do kaf judaico. Alguns admitem que as assinaturas são apenas o nome dos vereadores, escritos pelo escrivão, mas Schmidt entende que há poucas possibilidades de haver escrivães disponíveis na vila, e propõe: "Segundo parece, quem escrevia seus nomes era João Ramalho. No entanto, o alcaide-mor, ao lançar a sua rubrica, riscava com pulso firme aquela ferradura deitada, com a abertura voltada para a esquerda. Era o kaf, a sua derradeira afirmação de judeu".

kaf, letra hebraica, equivale ao kapa grego e ao nosso k, hoje banido do alfabeto. Em reportagem anterior mostramos a importância que Horácio de Carvalho deu ao aparecimento dessa letra na assinatura de Ramalho, como sinal cabalístico, indicativo da posição do patriarca na Ciência Secreta Hebraica. Esse sinal era ao mesmo tempo um talismã, que dava poder e abria caminho à riqueza. Daí João Ramalho usá-lo na assinatura, como o auxílio secreto de que dispunha para enfrentar a terra nova e seus perigos, bem como a ambição e as ameaças constantes dos homens brancos que chegavam, cada vez em maior número.

Enigma de Schmidt - Diante desses enigmas, e de todos os que cercam a figura semi-lendária de João Ramalho, o escritor Afonso Schmidt se coloca também numa posição enigmática. Recusa-se a tomar uma decisão como historiador, limitando-se a dizer e a escrever que nada mais fez do que uma "novelazinha fantasiosa". Mas, no posfácio que escreveu para a novela, recomenda aos interessados o exame do parecer de Theodoro Sampaio sobre o caso do kaf.

Schmidt não quer complicações. Evita provocar debates históricos. Lembra que escreveu muitas outras novelas do mesmo gênero, sem pretensões a firmar ou defender teses. Mas é evidente que a sua novela coloca novamente em foco o "Enigma de João Ramalho", como se vê do próprio título do livro. O Patriarca de São Paulo - apontado também como o verdadeiro fundador da cidade, como o fez ainda agora o poeta Guilherme de Almeida, em crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo - continua, assim, a desafiar os investigadores e os estudiosos de nossos problemas históricos.

Política secreta de D. João II: povoar o Brasil antes da descoberta




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Mauro Demarchi
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uma análise das Eleições para Presidente.

Analisando os resultados das Eleições, e em especial, do segundo turno, podemos concluir que:
a) Dilma e Lula foram obrigados a recuar em suas propostas abortistas e esquerdistas. Quem obrigou? A necessidade de passar uma imagem diferente da que vinha tendo no primeiro turno. Esse recuo foi a razão da vitória. A campanha petistas dirigida em redes sociais em nada teria resolvido se o discurso dos dois continuasse o mesmo. O resuldado teria sido uma derrota maior.
b) Dilma não ganhou a eleição. Lula ganhou a eleição para Dilma.
c) Lula ganhou aa eleição para Dilma nas regiões mais pobres usando o medo, isso mesmo, o Medo. O medo de perder o bolsa família caso não votassem no PT. Essa declaração foi feita por uma senhora nordestina no primeiro turno durante a propaganda oficial da própria candidata do Lula.
c) Os 80 % de aprovação que o governo dizia ter que tinha ficou reduzido a uma ninharia. O que pareceria fácil no primeiro turno demandou muito esforço para conseguir 53% num segundo turno. Se houvessem mais candidatos no segundo turno, não haveria chance da Dilma vencer.
d) Nas regiões que somadas forma 70% do PIB Lula não elegeu sua candidata pois é a região que produz o dinheiro e sabe o que o governo está fazendo em matéria de impostos, fiscalização e cobranças. Nessa região não adiantou a militância militar o petismo, pois o resultado foi negativo para Dilma.
Mais do que festejar a vitória o governo deveria repensar completamente a sua política e buscar a plena efetivação das promessas de campanha. O Brasil andava adormecido e de repente acordou obrigando a esquerda a rever seu posicionamento para que a derrota não fosse mais vergonhosa.
Quem deve festejar, sim, é o Brasil que acordou e obrigou ao governo dar uma guinada na trajetória esquerdista que vinha tendo enquanto o Gigante dormia em berço esplendido.
Essa é uma lição que devemos aprender.
Vamos trabalhar para que o Brasil não volte a dormir; para que as classes mais baixas não fiquem com medo de perder um benefício em troca de votos; para que os intelectuais de esquerda deixem de manipular consciências e vontades; enfim, para que o Brasil não durma enquanto a corrupção política trabalha para estrangular as liberdades constitucionais. 

domingo, 31 de outubro de 2010

Há várias Dilmas em Dilma, resta saber qual vai governar o Brasil

Há várias Dilmas em Dilma, resta saber qual vai governar o Brasil

O Brasil acaba de eleger Dilma Roussef como presidente. Em primeiro de Janeiro, se Deus quiser, ela assumirá. Você conhece a nova Presidenta? Sabe o que ela pensa? Conhece seu histórico politico? Veja pesquisou e nos trouxe um resumo biográfico de Dilma. Vale a pena ler. Muitas perguntas são levantadas e precisam respostas.



É grande a lista de perguntas sobre a nova presidente - e as respostas precisam ser escarafunchadas na sua trajetória

Ricardo Setti
Em junho deste ano, já candidata à Presidência, Dilma Rousseff em Paris

Em junho deste ano, já candidata à Presidência, Dilma Rousseff em Paris (Lionel Bonaventure/AFP)

Quem marcou o número 13 na eleição de hoje para presidente da República votou numa caixa preta.
 
Não é porque o grosso do eleitorado da candidata Dilma Vana Rousseff pouco ou nada saiba da Dilminha da Rua Major Lopes, em Belo Horizonte, filha de classe média alta que estudava no colégio de freiras Sion, não desgrudava das amigas Ieiê, Auxiliadora, Sandra e Catarina, tinha um flertezinho aqui e acolá com o Múcio ou com o Sérgio Werneck, que ensaiava dançar o twist à tarde para não fazer feio à noite, que, a despeito de sua aparência hoje hierática e sisuda, era alegre e extrovertida, nunca levava chá de cadeira e tinha pai severo, o dr. Pedro Rousseff, desses de não deixar ir às festas ou ao cinema sem o irmão Igor, um ano mais velho, hoje empresário em Belo Horizonte.
 
Da Dilminha filha da dona Dilma Maria que desde cedo, como até hoje, gostava de colocar apelido nos outros, não perdia o sundae de banana split das Lojas Americanas da Rua São Paulo nem deixava de assistir, longe dos olhos dos pais, às corridas de kart que os garotos mais velhos promoviam na Avenida Nossa Senhora do Carmo. Que viajou pela primeira vez para a Europa com a turma do Colégio Dorothéa e uma freira, a Madre Porto, tomando conta das jovens.
 

Arquivo pessoal

A família Rousseff
Não é também porque seus eleitores ignorem que aquela casa acolhedora com a grande varanda na frente tinha três empregadas domésticas, abrigava um piano e recebia regularmente uma professora de francês para ensinar às três crianças – Dilminha, o irmão e a caçula Zana, que um dia morreu dormindo, aos 16 anos, provavelmente de um ataque cardíaco. Ou que a jovem Dilma lia tudo, mais ainda que os demais em uma turma de universitários que liam muito, que gosta de Drummond, Fernando Pessoa e Mário Quintana, que conhece a obra de Sófocles e o mundo das artes plásticas a ponto de discorrer longamente sobre a obra de pintores de que pouca gente ouviu falar.
 
Nem tampouco que se questione a adesão aos valores da democracia da ex-militante da luta armada Dilma Rousseff , 62 anos, ex-presa política, torturada e condenada a seis anos de cadeia, dos quais cumpriu 28 meses, até o final de 1972, no hoje extinto Presídio Tiradentes, em São Paulo, beneficiada por decisão do Superior Tribunal Militar. Isso nem o mais ferrenho de seus críticos faz.
 
Tendo na juventude bebido fartamente na literatura marxista, mas não apenas, há pelo menos 35 anos a primeira mulher próxima de assumir o mais alto cargo público no país passou a participar da vida política dentro das regras do jogo, quando começou a frequentar o Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Iepes), mantido pelo velho MDB gaúcho do então deputado (e hoje senador) Pedro Simon em Porto Alegre. Entre os palestrantes que o Iepes recebia na época estava um sociólogo e professor cassado chamado Fernando Henrique Cardoso.
 
COMO VAI LIDAR COM O CONGRESSO, O PMDB, AS DIFERENTES ALAS DO PT? -- Não que a Dilma falte experiência na administração pública. Depois de um período de recuperação da cadeia na casa da mãe, em Belo Horizonte, de ter-se mudado para Porto Alegre e passado no vestibular para a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dilma foi contratada em 1975 como estagiária remunerada da Fundação de Economia e Estatística (FEE), órgão da secretaria estadual de Planejamento. De lá para cá, todo o seu trabalho e toda a sua experiência se deram sob as asas do Estado.
 
O que constitui um enigma é saber como as várias Dilmas existentes na presidente Dilma Rousseff irão governar o Brasil – e se a falta de experiência política no jogo duro que é o exercício do poder maior, e os 35 anos encerrada apenas em cargos públicos, sem o oxigênio da vida real lá fora, permitirão que ela o faça com êxito.
 
Como ela se sairá nas constantes e obrigatórias negociações com o Congresso? Como ela vai lidar com seus parceiros do PMDB de seu vice Michel Temer, aglomerado de políticos fisiológicos, de insaciável gula por cargos públicos e sempre de olho nas vantagens que eles podem proporcionar? Como vai administrar a selva de alas que é o PT – ela, que com uma década de partido é tida como "novata" e nunca se alinhou a qualquer das correntes petistas? Até que ponto vai interferir nos esforços mantidos desde há tempos por seu antecessor José Dirceu para ter influência em seu governo e, especificamente, afastar do núcleo de poder o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci? E o relacionamento com o empresariado? E a política externa?
 

Arquivo pessoal

Dilma Rousseff na escola
O MARIDO QUE SEQUESTROU UM AVIÃO -- É grande a lista de perguntas. São poucas as respostas, e elas precisam ser escarafunchadas na trajetória de Dilma até aqui e em depoimentos de quem a conhece.
 
Não será por falta de formação que ela deixará de tocar o barco – aliás, Lula está aí para mostrar que formação, embora extremamente desejável, deixou de ser quesito para levar à frente o governo "deste país". De toda maneira, a ex-chefe da Casa Civil da Presidência percorreu longo trajeto de estudos: o Colégio Sion, em seguida a então prestigiosa Escola Estadual Central, pública, e logo dois anos na Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 
Parou ao ser expulsa por suas ausências e pela militância política, primeiro na minúscula Política Operária (Polop), grupúsculo delirante cuja ala pró-luta armada acabou prevalecendo e se transformando, com participação dela, no Comando de Libertação Nacional (Colina), pomposo título para uma organização com algumas dezenas de jovens militantes. A essa altura, fugindo da repressão da ditadura em Belo Horizonte, vivia na clandestinidade no Rio com o primeiro marido, o militante de esquerda e àquela altura ex-preso político Cláudio Galeno Linhares, com quem se casara em 1966, aos 19 anos.
 
Seis anos mais velho que Dilma, Galeno – que em 1970 seria um dos seqüestradores de um jato Caravelle da extinta Cruzeiro do Sul em Montevidéu desviado para Cuba – acentuara as idéias políticas que a namorada já abrigava. E a inclinação pela luta armada se reforçara com a leitura entusiástica que os dois compartilharam do livro Revolução na Revolução, do então intelectual marxista francês Régis Debray, celebrizado por haver sido preso na Bolívia, onde tentou participar da frustrada guerrilha do argentino-cubano Ernesto "Che" Guevara.
 

Foto Antonio Milena

Ficha de Dilma Rousseff nos arquivos militares

Ficha de Dilma Rousseff nos arquivos militares

OS ANOS DE CADEIA E A FORMAÇÃO EM ECONOMIA -- Eventuais planos de estudos formais, para Dilma, adiaram-se com sua prisão pelo antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, em janeiro de 1970, quando passara a integrar as fileiras da organização armada clandestina VAR-Palmares (união do  Colina com a Vanguarda Popular Revolucionária do ex-capitão Carlos Lamarca).À prisão se seguiram as torturas nas dependências da famigerada Operação Bandeirantes (Oban), por ironia localizadas no bairro do Paraíso – choques elétricos na "cadeira do dragão", choques nas mãos, pés, coxas, seios e cabeça, palmatória e pau-de-arara – e a condenação à pena de prisão no Presídio Tiradentes.
 
Dilma aproveitou a longa estada na cadeia para ler como nunca, inclusive quase toda a gigantesca obra de Dostoiévski, mas só voltaria aos estudos em 1973, em Porto Alegre, num cursinho pré-vestibular para economia. Nesse meio tempo, se separara de Galeno, de quem é amiga até hoje, e se unira ao advogado gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, dirigente da chamada "Dissidência" do Partido Comunista no Rio Grande do Sul, que conhecera no Rio, num período em que atuava na logística do Colina, transportando armas, munição e dinheiro.
 
Passou na UFRGS, formou-se economista em 1977, aos 30 anos de idade e já mãe da filha Paula, que teve com Carlos Araújo. Mudou-se para São Paulo a fim de cursar mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A sogra lhe dava uma mão financeira. Mas não terminou nem elaborou a obrigatória dissertação final.
 
Dez anos depois, começou um doutorado na mesma Unicamp, também deixado seis anos depois, em 2004, porque suas tarefas como ministra das Minas e Energia do primeiro governo Lula não lhe davam tempo. As duas titulações inexistentes figuraram durante longos meses no site da Casa Civil da Presidência da República, provocando críticas, embora provavelmente a mancada se deva a um funcionário subalterno.
 
"CAPACIDADE DE APRENDER E DE APREENDER" --Além de oito, nove anos de estudos centrados em Economia, Dilma, por sua natureza de pessoa reconhecidamente dedicada e pertinaz, aprendeu muito no desempenho no serviço público. "A Dilma sempre foi uma pessoa muito aplicada, obstinada, lia muito, tinha capacidade de análise e percepção muito aguda", disse a VEJA.com o amigo de juventude Fernando Pimentel, ex-prefeito petista de Belo Horizonte e um dos coordenadores de sua campanha.
 
"Ela tem uma capacidade extraordinária de aprender e de apreender", relatou a VEJA.com um colega de ministério que continua no governo Lula. Funcionária "caxias" da FEE, onde começou estagiária, perdeu o emprego por razões políticas mas voltou poucos meses depois ao cargo por iniciativa de um governador da Arena, o partido do regime militar – Sinval Guazzelli, que mais tarde se transferiria para o PMDB.
 
A FEE, por sua própria natureza, permitiu-lhe familiarizar-se em detalhes com a economia gaúcha, enquanto exercitava a atividade política no PDT, partido de cuja fundação pelo ex-governador Leonel Brizola participou, ao lado do marido, Carlos – mais tarde eleito três vezes consecutivas deputado estadual. Por causa do PDT deixou a FEE para trabalhar como assessora da bancada do partido na Assembléia Legislativa.
 
Uma coisa leva à outra e, misturando sua formação técnica com a influência política do marido deputado, surge o convite para um primeiro cargo de real importância: em 1985, o recém-eleito prefeito Alceu Collares (PDT) a chama para ocupar a Secretaria Municipal da Fazenda. Collares, futuro governador gaúcho (1991-1995), chegara à Prefeitura no primeiro pleito livre para a escolha de prefeitos das capitais – até então nomeados pelos governadores, por decisão da ditadura – desde 1964.
 
A HORA DE DEIXAR O PDT DE BRIZOLA – Quem acha que a sua própria foi a primeira campanha eleitoral de Dilma não leva em conta o fato de que ela renunciou à Secretaria para participar em tempo integral da primeira tentativa do marido de eleger-se prefeito de Porto Alegre, em 1988, contra Olívio Dutra (PT). Olívio ganhou de Carlos Araújo, e Dilma, após um ano e pouco como diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre, acabaria resgatada para a FEE quando Collares assumiu o Palácio Piratini, em janeiro de 1991 – desta vez, o governador a colocou na presidência do órgão.
 
No final de 1993, Collares convocou-a para a Secretaria Estadual de Energia, Minas e Comunicações. Ficou até o final do governo, 1º de janeiro de 1995, praticando imersão numa área em que se tornaria especialista.
 
Voltaria à mesma Secretaria no começo de 1999, quando Olívio Dutra, ex-adversário do marido na disputa municipal de 1988, venceu as eleições para o governo do estado com apoio do PDT de Brizola. Entre a saída e o regresso à Secretaria, a presidenciável retornara à FEE para editar a revista da fundação, na qual publicou artigos sobre sua nova área de especialização, a energia.
 
A aliança de Brizola com o PT não resistiria à disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, em 2000. Os dois lados não conseguiram indicar um candidato comum, e acabaram partindo para o pleito cada um com o seu: de novo Collares, pelo PDT, e o então ex-deputado, ex-vice-prefeito e ex-prefeito Tarso Genro , do PT. Chegara, para Dilma, a hora de romper com o PDT: ela defendeu a continuidade da aliança dos dois partidos de esquerda, não concordou com a candidatura de Collares, resolveu permanecer como secretária do governador Olívio Dutra e, em seguida, filiou-se ao PT. Por isso acabou incluída no grupo que Brizola acusou de ter-se "vendido por um prato de lentilhas".
 

Mauro/Zero Hora

Dilma Rousseff em 1991, quando era presidente da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul

Dilma Rousseff em 1991, quando era presidente da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul

"SAI A MADONNA, ENTRA A MANDONA" – O ano de 2000 coincidiria com o fim de casamento entre Dilma e Carlos Araújo. Eles haviam se separado cinco anos antes, quando Carlos alimentou um caso extra-conjugal do qual resultou um filho. Dilma despachou-o de casa, mas voltaram às boas mais tarde antes de colocarem um ponto final na relação. Contudo, mantêm-se amigos e se visitam ainda hoje. Araújo deu grande apoio à ex-mulher durante o tratamento para combater o câncer no sistema linfático surgido em março do ano passado.
 
Não se sabe praticamente nada da vida sentimental de Dilma a partir daí, exceto um possível namoro, aparentemente encerrado, com um engenheiro gaúcho, Luiz Becker, com quem trabalhou na Secretaria Estadual de Energia. A ex-ministra é reservadíssima e defende com tenacidade a vida pessoal.
 
– Ela virou avó agora, e eu nem sabia que ela tinha uma filha – contou a VEJA.com um ex-político amigo do presidente Lula que conhece Dilma há anos. 
 
Reservada e fechada na vida pessoal – pouca gente sabe que a mãe e uma tia solteira moram com ela em Brasília --, Dilma não costuma ser discreta quando se trata de reclamar do que considera errado no trabalho. Muitos consideram que a forma de expressar seu grau de exigência e sua impaciência para com colaboradores, mesmo de primeiro grau de importância, será um grande problema para uma Dilma presidente.
 
"Ela é muito brava", comenta esse amigo do presidente Lula, que lembra:
 
– A melhor frase sobre Dilma a esse respeito foi a do governador Sérgio Cabral, do Rio, logo após o Carnaval, quando a Madonna foi embora do Rio e o Lula anunciou a Dilma como candidata: "Vai-se a Madonna e chega a mandona".
 
BRONCAS, CHORO, "MENTIROSA?" – Um ex-presidente de estatal durante o primeiro mandato de Lula assíduo ao Palácio do Planalto conta que "cansou" de ver auxiliares e assessores chorando ao deixar a sala da então ministra da Casa Civil depois de levar reprimendas terríveis. Um ministro colega de Dilma presenciou uma bronca em altos brados no presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, diante de dezenas de outros membros do governo.
 
Um amigo do economista Damien Fiocca lembra-se de que quando o atual presidente da Nossa Caixa, integrada ao Banco do Brasil, era vice-presidente do BNDES (2006-2007) e ousou comentar um "não é bem assim" durante exposição da ministra, ouviu a resposta, aos gritos:
 
– Você está me chamando de mentirosa?
 
Fiocca pôs panos quentes, mas ela insistiu:
 
– Está, sim!
 
Durante a conferência sobre mudanças climáticas em Copenhague, em dezembro do ano passado, a então ministra, membro da delegação brasileira, dirigiu-se aos berros diante de professores universitários, cientistas e funcionários a um assessor que expressou sua opinião nos seguintes termos:
 
– O senhor cale a boca, porque essa conversa é de nível político.
 
Em apresentações que lhe eram feitas como chefe da Casa Civil, sua insatisfação com dados incompletos ou conclusões feitas sem a suficiente base se manifestava – nunca com uso de palavrões, prática tão comum no governo Lula, a começar pelo próprio presidente – com frases como:
 
– Mas isso é de uma incompetência absurda!
 
Ou, então:
 
– Essa apresentação é ridícula!
 
Com uma terceira possibilidade:
 
– Você deveria ter vergonha de apresentar isso!
 
 

Fernando Bizerra Jr./EFE

Dilma Rousseff em campanha, Brasília, 28/09/2010

Dilma Rousseff em campanha, Brasília, 28/09/2010

"METÓDICA, ORGANIZADA, SEVERA, RÍGIDA" – O amigo Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, comenta:
 
– A Dilma lapidou seu senso de disciplina, de organização. Ela é uma pessoa muito metódica, organizada, severa, rígida com prazos resultados e metas.
 
Pimentel considera essa característica uma herança dos tempos da luta armada.
 
– Ela não transige com falhas ou erros, e isso acho que tem a ver com nossa militância, porque na clandestinidade qualquer falha podia levar à prisão ou até à morte de companheiros".
 
"Dizem que ela é dura", comenta o ex-colega de ministério. "Mas a verdade é que um ministro precisa ser duro, cobrar. Tem muita gente ruim, pouco qualificada em Brasília. Poucos sabem fazer uma apresentação digna desse nome, por exemplo". O fato, atesta esse ministro, é que com Dilma na Casa Civil "tudo no meu Ministério passou a andar, não tinha mais essa história de 'ah, isso está parado na Casa Civil'".
 
Nem todos os ex-colegas de Dilma no governo compartilham dessa visão. Um deles concorda em que um ponto forte de Dilma é o domínio dos temas de que trata. "Se o presidente pede para estudar um assunto, ela passa o fim de semana mergulhado nele e volta sabendo o que precisa", diz. "Ela conhece os assuntos do governo como muito pouca gente no Brasil, lida muito bem com dados".
 
"INTELIGÊNCIA EMOCIONAL PÉSSIMA" – Isso, contudo, é pouco, na opinião dessa fonte. "O problema da Dilma é que ela não motiva, não há 'dilmistas' dentro do governo, ninguém se empolga com ela". E acrescenta: "A inteligência emocional dela é péssima. Não vejo em Dilma condições de amarrar acordos, liderar um time, coordenar uma equipe como presidente. Falta-lhe liderança natural. Temo que ela fique na mão do PT, ou do PMDB ou então do Lula".
 
Para esse observador muito bem informado, "seu estilo de gerenciamento pode funcionar para coordenar ministros, mas não é bom para um presidente". Ele aponta também o que, em sua visão, seriam "o micro-management e o detalhismo" de Dilma, que "desgastam o que é bom nela".
 
QUESTÕES DEIXADAS NO AR – A despeito de seu detalhismo, e mesmo que seus adeptos apregoem tratar-se de uma servidora pública que nunca se envolveu em corrupção, Dilma deixou no ar certas questões, sérias, que os eleitores mereciam haver conhecido melhor.
 
A ex-ministra, por exemplo, viu acrescida uma nódoa a seu currículo com a recente revelação dos escândalos de tráfico de influência na Casa Civil, que comandou até abril passado e que deixou nas mãos de sua secretária-executiva, Erenice Guerra. A chusma de parentes de Erenice encastelada em cargos públicos, ora em investigação pela Polícia Federal, lá estava quando Dilma era ministra, da mesma forma que já atuava, vendendo facilidades, o filho lobista de Erenice, Israel Guerra.
 
Nada existe sobre o envolvimento de Dilma em irregularidades, mas inevitavelmente se aplica a ela, no caso, a velha norma: se Dilma sabia de algo e nada fez, foi no mínimo omissa, e na pior das hipóteses, conivente; se não sabia de algo em curso em seu quintal, é sinal de incompetência.
Outro caso relaciona-se com a notória família Sarney. Em agosto do ano passado, a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira contou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo ter sido chamada ao Palácio do Planalto para uma audiência com Dilma, à época chefe da Casa Civil. A ministra teria pedido a ela que "agilizasse" investigações em curso na Receita sobre a família do senador e presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). Como isso não ocorreu, ela foi demitida do cargo. Dilma não somente negou o pedido como assegurou que sequer houve o encontro com Lina Vieira. Até hoje não se sabe o que ocorreu na verdade.
 
E há, naturalmente, o célebre caso do dossiê que pretendia atingir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a falecida ex-primeira dama Ruth Cardoso e alguns assessores próximos de FHC. As coisas se passaram no começo de 2008 quando, para tentar calar a oposição e a barulheira que fazia na CPI dos Cartões Corporativos – sobre gastos excessivos e não transparentes de integrantes do governo com esse tipo de cartão de crédito –, a Casa Civil teria produzido e divulgado o dossiê com as despesas de FHC, a mulher e assessores.
 
Dilma negou a existência do dossê. O que havia, asseverou, era a montagem de "um banco de dados" formal organizado a pedido do Tribunal de Contas da União. A Polícia Federal entrou na história e, após investigações, revelou que efetivamente o dossiê havia sido produzido na Casa Civil e vazado por assessor de Dilma para o gabinete de um senador da oposição. O assessor assumiu a culpa e, formalmente, deixou o emprego "a pedido". Posteriormente, Dilma telefonou a Ruth Cardoso. Amigos da ex-primeira-dama dizem que ela "foi dura" com a ministra na conversa.
 

Celso Junior/AE

Dilma Rousseff em 2007, quando ocupava o cargo de ministra-chefe da Casa Civil

Dilma Rousseff em 2007, quando ocupava o cargo de ministra-chefe da Casa Civil

"NEM TODO EMPRESÁRIO É LADRÃO OU F. DA P." -- A questão do que se baixou debaixo dos panos da Casa Civil e a de presença ou não de carisma, capacidade de liderar e forma de trabalho, sem dúvida, são importantes quando se indaga que tipo de presidente seria Dilma, ou que tipo de governo faria. E, naturalmente, há outras. Talvez tão importante quanto esta é como Dilma vê o papel do Estado, do capitalismo, motor de riqueza e crescimento no mundo, e seus representantes, os empresários.
 
Nesse aspecto, é perfeitamente possível dizer que a ex-ministra passou por uma grande transformação – e, a despeito de ainda manter uma considerável ternura pelo Estado, no caminho da modernidade. Talvez a semente disso tudo estivesse na sua família: o pai, o imigrante búlgaro Pétar Russév, que mudou o nome para Pedro Rousseff, advogado de formação, era um empreendedor: realizou muitas obras para a siderúrgica Mannesmann e ao morrer, em 1962, quando a filha tinha 17 anos, deixou dinheiro no banco e 15 imóveis.
 
O ex-diretor de um grande banco se lembra da brutal dificuldade que encontrou para conseguir uma importante audiência com Dilma ainda quando ministra das Minas e Energia (2003-2005). "E era assunto de interesse do governo", lembra. O banco integrava uma operação que canalizaria centenas de milhões de dólares para um grande empreendimento da administração Lula, que precisava ser exposto à ministra. Os pedidos de audiência, entretanto, batiam numa parede.
 
Foi preciso acionar contatos no Planalto para flexibilizar a agenda de Dilma. "A ministra tinha uma certa ojeriza a empresas", lembra hoje o ex-diretor. "Isso é até compreensível: durante muito tempo, o PT só governou municípios, e seus quadros mantiveram contato com empresários que, justa ou injustamente, têm má fama, como os da área de limpeza urbana e de transporte coletivo".
 
O fato é que Dilma se surpreendeu com o que viu e ouviu durante a audiência, ficou interessada e espichou para mais de uma hora uma conversa programada para menos de 30 minutos. 
 
A ida para a Casa Civil e a incumbência recebida de Lula de coordenar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – por mais que haja críticas ao programa, por muitos apontado como mera "prateleira" de projetos dispersos, em boa parte baseados em recursos privados que ainda não existem – puseram a ministra em contato com várias áreas muito dinâmicas da economia e do empresariado e aceleraram seu processo de mudança.
 
Pulando de assuntos tão diversos que vão da produção de etanol e a construção do trem-bala São Paulo-Rio ao processo de transferência de tecnologia estrangeira para a exploração do pré-sal, a ministra incorporou a seu dia-a-dia a convivência com gigantes do empresariado brasileiro e dirigentes de imensas multinacionais. "Ela passou a ter uma visão muito diferente da que tinha – enxergou no empresariado eficiência, modernidade, viu que nem todo empresário é ladrão e f. da p.", atesta o ex-colega de ministério.
 
Dilma, por exemplo, ficou perplexa ao perceber que o ambicioso programa Minha Casa, Minha Vida, com que Lula pretendia forrar o país de habitações para pessoas de renda modesta, estava totalmente nas mãos da Caixa Econômica Federal e mal conseguiria atingir 200 mil residências, em vez de 1 milhão, como queria o governo. Além disso, como cabia à CEF o seguro contra o calote nos pagamentos, o programa incluía dispositivos draconianos: um cidadão de 60 anos de idade ou mais pagaria a título de seguro um terço do valor das prestações. A Caixa engordava sua carteira seguradora e empurrava com a barriga a meta do governo.
 
"O Lula ficou uma fera", conta uma testemunha do caso. Dilma apressou-se a convocar empresários do setor para discutir e reformular a política habitacional. O resultado é que, das mil empresas inscritas para participar do programa, passou-se a nove mil, e entidades poderosas como a Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib). O programa, relatam empresários, passou a ser tocado a grande velocidade.
Os contatos com dirigentes da iniciativa privada levaram a ministra até a adotar, para a gestão do PAC, princípios e fundamentos do modelo de controle de projetos desenvolvido por uma instituição privada com interesses e investimentos em diferentes áreas da economia.
 
Essa Dilma polida pelo pragmatismo atuou, obviamente, nos fundamentos de sua campanha à Presidência. Apoiada por Lula, ela decepou uma série de barbaridades do projeto de governo do PT, coordenado pelo inefável professor Marco Aurélio Garcia, um dos responsáveis pela política externa errática, esquerdóide e esquizofrênica da administração Lula. Ficaram de fora itens defendendo maior controle estatal da economia, arranhando a liberdade de expressão ou propondo controle governamental sobre canais de TV por assinatura. Entraram temas como a defesa da preservação da estabilidade econômica e um elogio explícito à atuação dos bancos brasileiros na grande crise financeira que explodiu em 2008.
 

Felipe Dana/AP

Lula beija Dilma durante comício no Rio de Janeiro

Lula beija Dilma durante comício no Rio de Janeiro

UM RETRATO DO PRAGMATISMO --VEJA captou o retrato desse pragmatismo em reportagem publicada em fevereiro, de autoria dos jornalistas Otávio Cabral e Gustavo Ribeiro. Ali se listavam seis grandes projetos do governo a respeito dos quais a ministra utilizava uma retórica à esquerda, simpática ao petismo, e na prática adotava soluções mais adequadas ao país – em todos os casos, menos um, fazendo a balança pender para sensível participação da iniciativa privada.
 
A lista:
 
1.     GÁS
 
O que Dilma dizia: em discursos, defendeu o fortalecimento da Petrobrás e seus interesses comerciais, por considerar a empresa indutora do desenvolvimento.
 
O que Dilma fez: para evitar apagões, obrigou em 2007 a Petrobrás a priorizar o fornecimento de gás a termoelétricas (privadas), em detrimento de outros clientes. A medida deu prejuízo à Petrobrás e levou à demissão do diretor da área de gás da empresa, Ildo Sauer, opositor de Dilma, à demissão.
 
Resultado: com as termoelétricas com abastecimento garantido, reduziram-se os riscos de apagão, mas as indústrias do Sudeste que adotaram o gás como matriz energética sofreram prejuízos.
 
2.     FERROVIA TRANSNORDESTINA
 
O que Dilma dizia: querendo inaugurar ainda em 2010 a ferrovia que cortará o Nordeste, chegou a ameaçar o empresário responsável pelo projeto, Benjamin Steinbruch, de tomar a obra para o governo.
 
O que Dilma fez: determinou um aumento de 500 milhões de reais de investimentos do BNDES na ferrovia e que o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste reduzisse as exigências feitas a Steinbruch para novos empréstimos.
 
Resultado: antes paradas, as obras foram retomadas, o que permitirá a inauguração de um dos trechos da estrada no ano que vem.
 
3.     ENERGIA
 
O que Dilma disse: em 2003, declarava-se favorável ao aumento da participação estatal na distribuição de energia, setor privatizado pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). As tarifas, segundo ela, deveriam ser atreladas aos custos das empresas, e não aos índices de preços, como previam os contratos de concessão.
 
O que Dilma fez: aprovou um marco regulatório que reduziu a presença do estado no setor. Com pouca interferência estatal, o mercado livre de energia – em poucas palavras, a possibilidade que passou a existir de consumidores até uma certa quantidade não adquirirem energia da concessionária local, mas procurar outros fornecedores – viu sua participação na cadeia de energia crescer de apenas 7% para 27%.
 
Resultado: aprovado pelos empresários e pelos partidos de oposição, o novo marco regulatório estimulou investimentos privados na construção de usinas hidrelétricas, termoelétricas e de energia eólica.
 
4.     TRANGÊNICOS
 
O que Dilma disse: apoiava o projeto de governo de Lula que prometia impedir o plantio de grãos transgênicos no Brasil e se alinhava com os ambientalistas mais extremados.
 
O que Dilma fez: garantiu, em 2008, a aprovação do plantio de grãos transgênicos no país. Depois, enquadrou os ministros que se rebelaram e até ameaçaram recorrer à Justiça contra a medida.
 
Resultado: a medida permitiu que as lavouras brasileiras se equiparassem em competitividade às dos países mais avançados na área. A então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu demissão. Mais tarde, deixou o PT e este ano candidatou-se à Presidência pelo PV.
 
5.     RODOVIAS
 
O que Dilma disse: pregava o fortalecimento do papel do estado e das estatais como promotores de desenvolvimento.
 
O que Dilma fez: em 2007, liderou dentro do governo a concessão à iniciativa privada de rodovias como a Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte) e a Régis Bittencourt (São Paulo-Sul do país). Optou pelo modelo no qual vence o leilão quem oferece o pedágio mais barato, e não quem paga mais pela concessão.
 
Resultado: as novas concessionárias estão em processo de modernização das estradas e cobram pedágios inferiores aos das vencedoras dos leilões realizados no governo FHC. A abertura à iniciativa privada, louvável, resultou porém, devido ao critério do pedágio mais barato como item fundamental das concorrências, a estradas de qualidade discutível.
 
6.     PRÉ-SAL
 
O que Dilma disse: não se pronunciou publicamente, mas integrou a comissão que elaborou as novas regras do setor, em 2008. O projeto previa a participação de empresas privadas e estatais na exploração do petróleo da camada submarina do pré-sal.
 
O que Dilma fez: em 2009, em recaída estatista, defendeu maior controle estatal na exploração das reservas. De acordo com a proposta apresentada ao Congresso e aprovada, a Petrobrás passou a ser a única operadora das reservas. Criou-se uma nova estatal, a Petro-Sal, encarregada de gerir os recursos e coordenar a exploração dos recursos.
 
Resultados: ainda é pequeno. A exploração começou em julho, em uma plataforma no litoral do Espírito Santo, a uma média de 20 mil barris por dia.
 

Leo Caldas

Dilma Rousseff, candidata petista à Presidência, cumprimenta eleitores durante evento em julho deste ano em Natal, no Rio Grande do Norte

Dilma Rousseff, candidata petista à Presidência, cumprimenta eleitores durante evento em julho deste ano em Natal, no Rio Grande do Norte

UMA QUESTÃO MORAL: CAMPANHA ERIGIDA SOBRE UMA MENTIRA -- Tudo isso considerado, vemos que a ex-ministra tem aspectos positivos, tem aspectos negativos. Deixa explicações incompletas sobre problemas ocorridos durante sua gestão na Casa Civil. Falta-lhe experiência política. Além de jamais haver sido antes provada nas urnas, está a anos-luz do carisma de Lula e longe do preparo intelectual e da capacidade política de Fernando Henrique. Muito bem. Isto posto, há ainda uma questão a levantar – que, neste texto, será a última.
 
É uma relevante questão moral.
 
Uma mulher que os amigos consideram "íntegra", colegas de ministério "transparente" e interlocutores vários "verdadeira" já defendeu, em público e em mais de uma ocasião, o uso da mentira como recurso extremo – para salvar companheiros de clandestinidade da prisão, por exemplo, quando lutava para instalar um regime "revolucionário" totalitário no país.
 
Trata-se de uma questão complexa, que, nesses termos e nessa situação extrema, pode ser discutida interminavelmente.
 
O problema é que Dilma aceitou, incorporou e repetiu ao longo da campanha um outro tipo de mentira, grande e grave – uma enorme mentira forjada por Lula e martelada milhares de vezes perante o povo brasileiro como verdade inquestionável: a de que tudo começou em 2003, com o governo do PT, e que antes dele, especialmente nos oito anos anteriores, nada se fez, nada se transformou, nada foi tornado melhor, nada se construiu, exceto uma "herança maldita" que coube ao homem simples do povo que chegou ao Planalto administrar e transformar em glória.
 
Nenhum país decente se constrói em cima de uma mentira sobre a própria História. Se não se desfizer deste fardo, um dia Dilma será destruída por ele.