sábado, 1 de novembro de 2008

Cuba e o furacão

NEM UM PREGO, NEM UMA TÁBUA


* Armando Valladares


 O furacao Ike, que devastou Cuba em setembro/2008, atingiu casas mal conservadas O tirano Fidel Castro – ou quem escreve por ele – declara que “as famílias receberão ajuda material e alimentar o tempo que for necessário, até que se recupere ....” etc. etc. E, mais adiante, Fidel faz a declaração mais cínica e perversa possível na situação que está passando o povo cubano, quando centenas de milhares estão desabrigados: o comandante em chefe incita a ir “à luta contra o desperdício” (sic). [1] Todo ser humano que tenha um mínimo de sensibilidade, deve lamentar a tragédia desses infelizes. Muitas organizações e líderes, verdadeiramente bem intencionados, estão preocupados com a situação; outros atuam demagogicamente. Entre estes últimos, se encontram os defensores e cúmplices de sempre da tirania castrista, que conhecemos muito bem e denunciamos que pretendem se aproveitar dos sentimentos de compaixão para promover suas velhas e conhecidas agendas a favor do levantamento do embargo e da cooperação com a ditadura e não com o sofrido e faminto povo. Estes senhores não perdem um segundo, e antes que façam uma prece ou que tenham um sentimento de compaixão pelas vítimas na Ilha, lançam furiosos ataques contra a manutenção do embargo e contra o atual governo norte-americano, com uma notória sensibilidade seletiva, culpando os Estados Unidos e não a tirania castrista por não dar solução para a miséria existente na Ilha. Para eles, a solução (e a culpa) está somente nas mãos do governo dos Estados Unidos. Não fazem nenhuma crítica contra o governo cubano, nem um só pedido de moratória aos comunistas. Aí estão suas primeiras declarações, que não deixam lugar a dúvidas e mostram claramente suas verdadeiras intenções. É claro que mais tarde, quando os que se opõem ao levantamento do embargo - ou a qualquer ajuda, concessão ou conciliação com a tirania - denunciarem as intenções desses grupos, eles mudarão então esse discurso impopular. Mas o primeiro discurso, o verdadeiro discurso deles, é este que estou apontando. Para eles, os Estados Unidos é o vilão do filme, o que não permite levar ajuda a Cuba... Qualquer observador que não conheça os detalhes pode pensar que o governo americano é um obstáculo criminoso para a chegada da ajuda ao povo cubano. Penso que, em primeiro lugar, é preciso pedir ao governo dos Castro que elimine as altíssimas e abusivas taxas de importação e toda a classe de restrições para a entrada do que for enviado para as famílias. Pedir-lhe que suspenda a exportação de materiais de construção e de remédios e os entregue para a população. Que faça retornar milhares de médicos que estão trabalhando no exterior, para que atendam as vítimas dos furacões. Que abra as famosas e gigantescas reservas de provisões do comandante e as do exército. Esta é uma situação de emergência. Agora é hora de denunciar as contas de bilhões de dólares que os dirigentes da revolução possuem no exterior, para que o povo cubano se recorde de que, enquanto suas famílias estão ao relento, esses canalhas que lhes pedem “fervor revolucionário’ e que ‘não façam desperdício”, esses não sofrem falta de absolutamente nada, nem eles nem suas famílias, pois vivem na abundância, debaixo de tetos seguros. São esses que impedem a ajuda que lhes queremos enviar. É preciso insistir, repisar este assunto, dizer para os cubanos desabrigados, que não são os americanos (como alguns querem que eles pensem), são os comunistas do governo que impedem que chegue até eles a ajuda dos que vivem no exílio. É preciso dizer-lhes que o Comitê Central do Partido está utilizando o infortúnio, a miséria e as necessidades de milhões de cubanos como chantagem, como instrumento para conseguir que as empresas norte-americanas lhes vendam a crédito (que nunca pagarão). Este é o único propósito deles. Não lhes importa que a população morra de fome e de epidemias. Para enviar ajuda humanitária aos nossos compatriotas, não é preciso mudar as leis norte-americanas, não é preciso levantar o embargo. A questão é que não podemos entregar essa ajuda diretamente ao governo cubano, porque sabemos, por experiência, que ela nunca chegará até a população. A ajuda da Espanha, por exemplo, já está em Pinar del Río, mas a utilizam para fabricar os locais para secar e curar o tabaco. Por isto, com diz o meu bom amigo e lutador Aldo Rosado, diretor de Nuevoacción, não se pode dar nem uma tábua, nem um prego para a ditadura. NOTAS 1- Reflexões de Fidel. Assediados pelos furacões. http://www.granma.cu/espanol/2008/septiembre/lun8/asediados.html * Diário Las Américas, 09.09.2008. - Tradução: André F. Falleiro Garcia